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Aproximação da arte com a vida

Equipe de mediadores

Durante o mês de abril, as visitas mediadas de arte do Inhotim abordam a natureza-morta e sua relação com o tempo e o espaço. Por meio desse gênero da história da arte, é possível levantar questões sobre os objetos do nosso cotidiano, a forma como olhamos para eles e o que os transforma em obras de arte.

 

Uma das séries fotográficas que compõe a exposição Natureza-Morta, na Galeria Fonte, do Inhotim, é Como aprender o que acontece na normalidade das coisas (2002-2005), da espanhola Sara Ramo. Nesse conjunto, a artista apresenta uma sequência de banheiros domésticos, ora organizados, ora repletos de utensílios e produtos de higiene pessoal. Ao expor esses ambientes particulares ela os torna públicos, trazendo à tona possibilidades misteriosas sobre tudo que acontece nesses locais tão íntimos.

 

Imagens da série "Como aprender o que acontece na normalidade das coisas", da artista Sara Ramo
Imagens da série “Como aprender o que acontece na normalidade das coisas” (2002-2005), da artista Sara Ramo

 

O contraste entre o tempo estático da fotografia e a transformação do ambiente retratado pode ser relacionado ao cotidiano. Ao utilizamos o banheiro, também o modificamos. Será essa uma proposta de apreender e alterar a normalidade do dia a dia, assim como nosso olhar sobre ele? A composição do banheiro, assim como a escolha e posição dos objetos nas obras, nos permite observar os trabalhos não mais como fotografias, mas como uma espécie de momento escultórico.

 

Múltiplas, as obras de Sara Ramo permitem diversas interpretações, o que coloca a artista como representante dessa arte contemporânea que transforma o conceito dado à arte desde o Iluminismo e a aproxima da vida, seja pelos materiais que utiliza ou pelas questões que suscita.

 

Como lidamos com o nosso cotidiano? Somos capazes de pensar os objetos utilitários de outra maneira, que não por meio de sua funcionalidade primária?

 

 

Texto de Daniela de Avelar Vaz Rodrigues, mediadora de arte do Inhotim

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Natureza-Morta X Still Life

Jochen Volz

É intrigante que em todas as línguas do norte europeu a Natureza-Morta (Still life) é tão evidentemente ligada à vida, mesmo que pela ausência de movimento, enquanto em todas as línguas latinas a mesma prática artística é descrita como natureza-morta. Apesar da possibilidade de uma equação entre vida inerte e morte ser natural, a mesma categoria de representação é descrita a partir de pontos de vista opostos. Por meio de nuances, contradições sutis e irritação poética, a Natureza-Morta tem um papel central na história da arte. Imagens de objetos cotidianos como frutas e legumes, panelas, copos, utensílios e outros objetos domésticos sempre foram estritamente exercícios de observação. Entretanto, isso se transformou em uma forma autônoma de arte a partir do século XVI, e, ao mesmo tempo, tornou-se uma declaração filosófica que descreve a finitude do ser e a equidade da existência de coisas orgânicas e inorgânicas.  Na arte contemporânea, a organização e reorganização de objetos, por meio do contraste entre a ordem e a desordem, o vazio e o cheio, a presença e a ausência, os artistas nos encorajam a questionar o espaço físico e mental no qual vivemos, assim como os valores atribuídos ao nosso conhecimento sobre as coisas.  Os trabalhos apresentados na exposição “Natureza-Morta”, na Galeria Fonte, questionam os parâmetros que utilizamos para descrever o mundo no qual vivemos, assim como os objetos que definimos como arte. O tempo parado, como sugerido no trabalho de Jorge Macchi, nos dá a oportunidade de descobrir novos sistemas de significados e procedimentos inesperados. 

 

 

* Jochen Volz é curador do Inhotim