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Quando a arte inspira a arte

Redação Inhotim

Uma visita ao Inhotim que se transformou em música. Foi assim: no final de 2012, o cantor e compositor paulistano Marcelo Jeneci passou uma temporada em Brumadinho/MG para conhecer o Instituto. Adorou. “Achei inacreditável ter no Brasil um lugar tão rico e bem construído, com uma proposta clara, com tanta beleza. É um convite a enxergar o universo de uma forma diferente”, define. A experiência rendeu frutos para as composições do artista. Em seu novo álbum, “De Graça”, lançado em outubro de 2013, ele apresenta a canção “Pra Gente se Desprender”, inspirada pela obra Forty part motet, 2001, da canadense Janet Cardiff, exposta em uma das salas da Galeria Praça, no Inhotim. Confira, a seguir, nossa conversa com Marcelo, parte de uma nova frota de artistas que têm colorido a cena musical.

 

 

Blog do Inhotim – Marcelo, como aconteceu essa história com a obra da Janet Cardiff?

Marcelo Jeneci – Fui para Brumadinho e fiquei cinco dias na cidade para conhecer o Inhotim. Achei o máximo a obra da Janet Cardiff com o coral [referindo-se a Forty part motet, 2001]. Escutar aquilo 360 graus, como a gente ouve os ruídos do dia a dia… Essa música litúrgica e barroca tem a ver com um pedaço da minha vida, da infância. Despertou uma memória afetiva primitiva em mim, de quando ia à igreja. Ali pensei: “puxa, tenho que trazer um coral litúrgico que passe a emoção que estou sentindo aqui para o disco”.

 

 

BI – Foi daí que surgiu “Pra Gente se Desprender”?

MJ – Isso. Criei o tema instrumental do final da música pensando nessa sensação que tive na instalação em Inhotim. Queria fazer as pessoas sentirem o que eu senti lá. De fato, essa experiência interferiu na música. Curiosamente, desde que as resenhas do “De Graça” começaram a sair, ela é a que mais aparece como predileta! Teve uma aceitação diferenciada em relação às outras, sempre ganha um lugar especial nos textos que falam do disco.

 

 

BI – Essa foi sua primeira visita ao parque?

MJ – Não, já havia tocado com o Arnaldo Antunes lá uma vez. Acho que todos os brasileiros devem conhecer esse lugar, é uma maravilha, uma experiência única que influencia as pessoas. É muito falado, mas, como o País é tão imenso, em alguns lugares às vezes as pessoas ainda não o conhecem. Por onde vou, falo que todo mundo deve ir.

 

 

BI – Em meio a essa produção tão variada que a gente vê hoje em dia, como você se percebe como artista?

MJ – Acho que arte é afirmação da vida. Como artista, sinto que no meu dia a dia acontece uma troca. É como se as casualidades da vida, a maneira como fui criado e como a música se apresentou para mim tenham me treinado para ser capaz de sintetizar e compartilhar alguns dos meus pontos de vista, sensações em relação ao mundo, dores e alegrias. É tipo o trabalho de quem escreve uma carta: minha sensação é de que devolvo às pessoas uma resposta sobre alguns assuntos. Estamos vivendo um momento muito rico na arte, na música, na história da humanidade.

 

 

BI – Você já disse que quando faz música, tem a intenção de melhorar a vida das pessoas desde o primeiro acorde. Como você vê essa relação entre arte e vida?

MJ – Tento disseminar um recado positivo, uma visão positiva, incentivar que um sonho dê sempre lugar para outro. Sublinho o lado bom, que é de graça, que é para todos. Às vezes, diante da crueldade da natureza da vida, a gente fica muito distante desse outro ponto de vista. Esse traço presente na estrutura do meu trabalho vem de casa, da combinação dos meus pais, um nordestino e uma paulistana, na periferia de São Paulo. São muito sorridentes, veem a vida muito bonita. Cresci assim, tendo consciência disso e tem momento que essa postura cabe. Uma das coisas mais interessantes da vida é a soma, o que se conversa, se aprende, se ensina… A amizade, o homem, a mulher, o sexo, o que é intrínseco aos nossos instintos. Essa relação entre os seres humanos é muito importante e é fundamental que se fale dela.

 

 

BI – Como está sendo a repercussão do “De Graça”, seu novo trabalho?

MJ – Sinto que o lançamento está começando a acontecer. Ainda não acelerou tudo, mas tenho recebido feedbacks muito positivos. Do primeiro para o segundo disco tem uma diferença. Esse tem uma proposta mais radical, lisérgica, que não havia antes. Tem mais dor, mais grito, mais “porrada”, e isso está sendo bem aceito, mesmo pelas pessoas que se aproximaram mais da sonoridade do anterior. Ainda assim, são canções que tocam o coração. Já em mim, a diferença é que, nesse, tenho uma sensação de encontro comigo mesmo muito clara e daí pouco importa a opinião do outro. Foi uma catarse, um transe que me curou, me fez um bem horrível (risos). Por tudo isso, qualquer frustração que vier não fica tão pesada. Esse encontro comigo mesmo me emociona.

 

 

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Entre as mais pedidas

Redação Inhotim

Na diversidade de ritmos que hoje fazem a cabeça da juventude, a música clássica vem conquistando lugar de destaque entre jovens de Brumadinho, Mário Campos e Bonfim. As melodias de Beethoven, Mozart e outros importantes compositores clássicos já disputam espaço nas playlists dessa garotada. São integrantes da Escola de Cordas Inhotim, que descobriram obras e sons até então desconhecidos.

 

Depois de um ano e meio de aulas práticas e teóricas já dá para perceber em cada nota tocada nos violoncelos, violinos, violas e contrabaixos, a afinidade dos jovens músicos com seus instrumentos, que hoje são motivo de mudanças e sonhos.

 

Morador da região do Tejuco, em Brumadinho, Tainã Jorge viu na Escola de Cordas a grande oportunidade de se tornar um músico. “Sempre tive muita vontade de aprender música, mas nunca tive oportunidade”. Hoje, Tainã concilia as atividades da orquestra com a profissão de técnico em enfermagem. “Vejo as pessoas se emocionarem com a música que eu apresento. Isso me faz muito feliz” comemora. 

 

 

Tainã Jorge, aluno da Escola de CordasTainã Jorge viu na Escola de Cordas a oportunidade de se tornar um músico Foto: Rossana Magri

 

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Parceria musical

Redação Inhotim

Dois jovens artistas de Belo Horizonte, Alexandre Andrés e Rafael Martini, encerram no próximo sábado (07), a programação musical do Inhotim de 2013. Os dois possuem uma produção musical intensa, atuando como compositores, instrumentistas e intérpretes, e se apresentam um em seguida ao outro, no palco do Teatro do Inhotim, às 14h30 e 16h. Na entrevista abaixo, Andrés conta um pouco de sua trajetória, influencias na carreira e a parceria com Martini que, segundo ele ”é um músico completo”.

 

Você começou a compor com apenas 15 anos. Como foi a sua trajetória na música desde então? 

 

Cresci em uma casa de músicos. Minha mãe é pianista, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e meu pai flautista, também professor da UFMG e integrante do grupo mineiro Uakti. Desde pequeno tive contato com a boa música mineira e com a música erudita, tocada pelos meus pais em um duo de flauta e piano, que eles tem até hoje. Estudei música desde cedo, e aos 15 anos comecei a me interessar pela composição. Em 2008, aos 18 anos de idade, gravei meu primeiro álbum, “Agualuz”, em parceria com o poeta Bernardo Maranhão.

 

Você se considera mais cantor ou compositor?

 

Me considero um músico, que valoriza tanto a busca como intérprete, flautista, violonista, cantor, quanto a busca como compositor.

Em alguns momentos da minha vida me vejo mais como compositor, normalmente quando estou vivendo o processo composicional, de criação dos arranjos e tudo mais. Já em outros momentos me sinto mais interprete, normalmente quando estou em uma turnê, lançando um CD, um novo projeto. Ou seja, na verdade tenho essas duas vertentes muito forte dentro de mim, talvez com a mesma força.

 

Como suas raízes mineiras influenciam o seu trabalho?

 

É inevitável que a música mineira esteja presente no meu trabalho. Acompanho artistas como o Grupo Uakti, o Clube da Esquina, dentre outros, desde pequeno. Adquiri uma bagagem musical muito grande, escutando a boa música mineira, portanto, naturalmente, tem muito da música de minas no meu trabalho.

 

Qual relação você estabelece com o trabalho do músico Rafael Martini, que se apresenta no mesmo dia que você, no Inhotim?

 

O Rafael é um músico completo, um grande pianista e um dos principais compositores e arranjadores de Minas Gerais, da nova geração de músicos. Conheci o Rafael em 2008 e naquela época comecei a receber muitas influências musicais do seu trabalho, com o grupo Quebra Pedra. Hoje considero ele um dos meus grandes amigos e um dos maiores parceiros no âmbito musical. Temos tocado junto desde de 2010, quando ele me convidou para fazer um show junto com o Quebrapedra e desde então a gente vem tocando bastante. Participei da gravação e de todos os shows de lançamento do CD “Motivo” e ele da gravação e dos shows de lançamento do “Macaxeira Fields”. É a segunda vez no ano que vamos dividir o mesmo palco, realizando os dois shows. Fizemos isso no meio do ano, no Festival de Inverno de São João Del Rei. Vai ser muito bacana realizar esses dois shows, que são muito bonitos, em um espaço tão especial como o Inhotim.