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Respire e divirta-se!

A proposta era passar uma manhã no Bronx, bairro nova-iorquino, conversando com o artista norte-americano John Ahearn. Logo na entrada de seu ateliê, sentimos que a energia era outra. Entre pedidos de desculpas por não lembrar mais das palavras-chave para se comunicar em português, John nos recebeu com uma explosão de energia. Imediatamente os planos mudaram. De repente, estávamos nos preparando para fazer o molde de “três… Não, melhor, quatro jovens!”. Há nove anos, ele e o também artista Rigoberto Torres estiveram em Brumadinho realizando o mesmo procedimento para compor duas obras expostas na Galeria Praça, no Inhotim: Rodoviária de Brumadinho (2005) e Abre a porta (2006).

 

Os jovens do Laboratório Inhotim se movimentavam livremente pelo ateliê do artista. Já John, junto com seu assistente, começou a preparar os materiais para as esculturas e a mover móveis pelo espaço. Ele montava a cena, mudava, completava, direcionava, pensava, repensava, ajeitava. “Quase como um diretor de cinema…”, brincou um dos jovens. Estávamos, sim, em uma composição artística dele, mesmo sem termos começado o processo de escultura pelo qual Ahearn é tão reconhecido.

 

Há quase 10 anos, convivi com John Ahearn no Inhotim, na casa azul que serviu de ateliê na época, na praça da rodoviária, em Brumadinho, nas ruas de Sapé, uma das comunidades quilombolas da região. Ele registrou e vivenciou manifestações culturais, religiosas e do cotidiano do município.  Essas experiências, depois, passaram a compor as duas obras do acervo do Instituto. Cada uma das pessoas nos painéis é uma história, que conta da vida na cidade, da cultura local, mas que também narra o poder dos encontros e diálogos. No reencontro com ele, agora no Bronx, lembrei-me da força humana fenomenal que sua obra tem.

 

“Onde estão os canudos para fazer os moldes? Eles sempre somem na hora de começar o processo… Tudo bem, vai dar certo”, afirmava John. E, de fato, tudo deu certo. Os jovens observaram e participaram do processo criativo e técnico do artista, conhecendo detalhes, observando decisões, pensando soluções.

John Ahearn prepara os jovens para fazer os moldes. Foto: Alice Dias
John Ahearn prepara os jovens para fazer os moldes. Foto: Alice Dias

Mas, afinal, tendo em mente o objetivo da viagem desses jovens – pesquisar e se inspirar para produzir um Festival de Rua em Brumadinho – o que o trabalho de um artista em seu ateliê pôde ensinar? Talvez, a resposta seja: todo processo demanda um esforço. Decidir é transformar, e o poder de transformação é uma das ferramentas do artista. Produzir algo faz uma diferença no mundo. “Não é emocionante? Estamos criando quatro esculturas, ou seja, quatro coisas que não existiam antes!”, disse John, no meio do processo. Para ele, a resposta poderia ser ainda mais simples: “Peço duas coisas de vocês hoje: primeiro, respirem. Segundo, divirtam-se!”.

O resultado da visita ao ateliê do artista, uma experiência que será lembrada para sempre. Foto: Maria Eugênia Salcedo Repolês
O resultado da visita ao ateliê do artista, uma experiência que será lembrada para sempre. Foto: Maria Eugênia Salcedo Repolês

Para saber mais sobre nossa viagem, clique aqui. O Laboratório Inhotim conta com o patrocínio do Banco Itaú.

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Diário de viagem

Alice Dias

Escrevo este relato, ainda muito envolvida pelo turbilhão de emoções que vivemos nos últimos dias. Dias, esses, que foram marcados por muitas “primeiras vezes” para a maioria dos oito adolescentes participantes do Laboratório Inhotim. Primeira viagem para fora de Minas Gerais, primeira vez em um avião, primeira vez em um metrô, primeira vez em outro país. Ou seja: muito acontecendo em pouco tempo.

 

Um dos objetivos da viagem para Nova York é a pesquisa de festivais que ocupem a cidade e envolvam a comunidade, já que, no final do ano, o Laboratório vai produzir um festival em Brumadinho, onde está o Inhotim, e de onde vêm esses adolescentes. Por isso, a parceria com o New Museum foi tão importante. Eles promovem anualmente uma festa de rua, que chega a sua oitava edição, e fomos convidados a participar como voluntários na organização e realização do evento.

 

Logo no dia de nossa chegada, fomos ao museu para conhecer a equipe do educativo e os jovens participantes de um programa de verão, que também trabalhariam na festa. Eles nos apresentaram as propostas das oficinas que seriam oferecidas ao público. Criamos nossos próprios uniformes a partir de camisetas, visitamos parte do museu e conhecemos a praça onde o evento aconteceria.

Nosso grupo e os voluntários que fizeram a Block Party ser um sucesso. Foto: Alice Dias
Nosso grupo e os voluntários que fizeram a Block Party ser um sucesso. Foto: Shannon Phipps

No dia seguinte, o lugar estava transformado. Oito tendas com mesas, um palco e vários voluntários muito prestativos e animados! Cada um dos jovens do Lab ficou em uma tenda, que correspondia a uma das oficinas oferecidas, juntamente com um jovem do New Museum e outros voluntários. O primeiro desafio enfrentado por eles foi a barreira da língua. O que, no momento inicial, era incômodo e estranho se dissolveu, aos poucos, durante as trocas do dia. Um sorriso, um olhar, um gesto, uma música, ou até a descoberta de uma paixão comum pela Demi Lovato – a jovem atriz e cantora norte-americana – foram meios de conexão que diminuíram as distâncias e diferenças. E, claro, a proximidade deles com a tecnologia também ajudou. De repente estavam todos usando seus smartphones com tradução simultânea para mediar a comunicação. No final das contas, ser jovem em Brumadinho ou em Nova York não é tão diferente assim!

Michele, uma das jovens do programa de verão do New Museum, usando o celular para minimizar as barreiras da língua. Foto: Alice Dias
Michele, uma das jovens do programa de verão do New Museum, usando o celular para minimizar as barreiras da língua. Foto: Alice Dias

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Laboratório Inhotim viaja para Nova York

Redação Inhotim

Projeto educativo mais antigo do Instituto, o Laboratório Inhotim está de malas prontas para conhecer uma das cidades mais vibrantes do mundo. Como parte das atividades do programa, nove alunos seguem para Nova York na próxima quinta-feira, 17/07, para uma experiência de observação e aprendizado, que inclui visitas a museus, espaços culturais, eventos e ateliês de artistas. “O Inhotim é um espaço que propõe diálogos internacionais por meio de seus acervos. Temos obras de arte e espécies botânicas de diversos lugares do mundo. No Laboratório Inhotim, também buscamos essa troca. Conhecer novos lugares e pessoas é ampliar horizontes, ajuda a entender nosso lugar no mundo, gera empoderamento”, reflete Maria Eugênia Salcedo, gerente de educação transversal do Inhotim.

 

Um dos pontos altos da agenda do grupo é uma festa de rua organizada pelo New Museum, museu dedicado exclusivamente à arte contemporânea. A programação do evento, batizado de New Museum Block Party, inclui performances e workshops, gratuitos para crianças e adultos e inspirados nas exposições em cartaz na instituição. Parte da produção da Block Party fica por conta dos jovens dos projetos educativos do museu. A ideia é que, por meio dessa experiência, os participantes do Laboratório Inhotim possam liderar a organização de um festival em Brumadinho, no mês de novembro, propondo uma nova relação com os espaços da cidade.

 

Millene Raissa Paraguai, 14 anos, é aluna da Escola Municipal Maria Solano Menezes Diniz, no distrito de Tejuco. Ela aguarda ansiosa a hora de embarcar pela primeira vez em um avião. “Vou levar essa experiência para a vida toda. Fico muito alegre em participar do Laboratório Inhotim. Hoje, quando vou ao parque, tenho um olhar diferente sobre a arte e também sobre a vida”, revela a adolescente. Com relação à festa, ela conta que quer prestar atenção em todos os detalhes para ver que ideias podem ser aproveitadas no evento de novembro. “Cada realidade é diferente, o que dá certo lá, pode não dar aqui”, avalia.

 

O Laboratório Inhotim é um programa de formação por meio da arte voltado para alunos de 12 a 16 anos da rede pública de Brumadinho. Ao realizar pesquisas e experimentações, os participantes desenvolvem um olhar crítico e reflexivo não apenas para o universo artístico, mas para todo o contexto em que estão inseridos, tornando-se agentes ativos em suas comunidades. Cerca de 200 jovens já passaram pelo Laboratório Inhotim desde seu início, em 2007. Além de Nova York, o projeto já levou jovens para Londres e Buenos Aires.

 

Ficou curioso para saber como será essa jornada? Durante a viagem, o Blog do Inhotim vai postar depoimentos e relatos dos participantes e educadores que vão para Nova York. Não deixe de conferir!

 

Se você quer ajudar o Instituto a realizar projetos como esse, clique aqui e torne-se um Amigo do Inhotim.

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Laboratório para a arte

Redação Inhotim

O ambiente é claro. Pela janela arredondada, a luz do fim de tarde e o clima urbano invadem a sala. O barulho das buzinas faz quase sumir os cochichos dos visitantes. Atentos, avaliam os quadros e fotos pendurados nas paredes. No centro, apoios recebem outras peças da exposição. Em comum entre elas está um dos mais antigos suportes do conhecimento, surgido na Idade Média: o livro.

 

Intitulada Sublevações do Livro: Objeto – Espaço – Matéria, a mostra realizada no início de dezembro reúne produções de participantes do Laboratório Inhotim, projeto educativo do Instituto, desenvolvido com alunos da rede municipal de Brumadinho/MG. Durante todo o ano de 2013, os alunos investigaram diferentes aspectos dessa antiga inovação técnica, que hoje aguarda o momento de se tornar obsoleta, ou não.

 

Entre as 17 experiências, estão duas de Rafaela Hermenegilda. “Quando comecei meu trabalho, pensei primeiramente em achar uma matéria ou objeto-chave. Entre vários, escolhi a árvore, já que é uma planta muito importante para o mundo e produz duas coisas essenciais à minha vida: o oxigênio e as folhas de papel que compõem os livros”, conta a menina, do alto de seus 14 anos. Para construir uma de suas propostas, Rafaela usou o livro como terreno fértil, literalmente. “A peça faz uma brincadeira de troca, já que a árvore passou a ser o receptor da escrita, e o livro teve que acolher a árvore”. Uma metáfora poética de como o conhecimento e a leitura podem fazer florescer belas ideias.

 

Laboratório Inhotim - Obra em exposiçãoAo plantar a espécie no livro, Rafaela atribuiu novos sentidos à literatura e à natureza Foto: Rossana Magri
 

 

Já em sua série de fotografias, é a árvore o esteio para a contação de histórias. “As pessoas escrevem nas árvores, registrando momentos especiais, ferindo-as com as palavras que resumem lembranças marcantes. Comecei a fotografar todas essas escritas que consegui achar. Desenvolvi a ideia de que elas são livros-objetos”. Sobre sua participação no projeto, ela resume: “Foi muito gratificante aprender um pouco sobre a arte e descobrir, talvez, uma profissão”.