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A macaúba e seus frutos

Redação Inhotim

O Inhotim é conhecido por reunir uma das maiores coleções de palmeiras do mundo, atualmente com mais de 700 espécies, vindas de diferentes lugares. Entre elas, a palmeira macaúba (Acrocomia aculeata), nativa do Brasil, possui uma interessante história dentro do parque. Em 2012, cerca de 80 exemplares foram incorporados ao jardim botânico por meio de uma grande ação de resgate, realizada em uma área de mineração próxima ao Instituto. Os exemplares foram salvos do corte, ainda que ambientalmente autorizado, e incorporados ao projeto paisagístico do Instituto.

 

Também conhecida como bocaiúva e coco-de-espinho, a palmeira macaúba é encontrada em quase todo o território nacional e dela pode-se aproveitar praticamente tudo. De seus frutos é extraída a polpa, com a qual se produz farinha. Rica em vitamina A e betacaroteno, ela pode ser usada em sucos, sorvetes, bolos, pães e doces. As folhas servem para a confecção de redes e linhas de pescaria. Já a madeira é utilizada em casas e outras construções e com o óleo da amêndoa – a semente da macaúba – são produzidos sabão, sabonete, margarina e cosméticos.

 

A imponente da palmeira macaúba. Foto: Rossana Magri
A imponente palmeira macaúba. Foto: Rossana Magri

 

Atualmente o Brasil desenvolve pesquisas com a macaúba com foco na produção de biodiesel, combustível feito a partir de óleos vegetais. Percebendo o grande potencial dessa espécie, cientistas têm se mostrado cada vez mais entusiasmados com os resultados obtidos. No Inhotim, ainda em 2014 serão iniciados estudos sobre a propagação dessa palmeira, já que a quebra de dormência da semente fora de seu ambiente natural é difícil e pouco conhecida.

 

Quer conhecer um pouco mais sobre o Jardim Botânico Inhotim e a palmeira macaúba? Então clique aqui e assista ao vídeo.

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De onde vem o Carnaval?

Redação Inhotim

Nem todo mundo sabe, mas o Carnaval é muito mais antigo que os trios de Dodô e Osmar em Salvador, na Bahia. Essa festa popular tem suas origens em celebrações como a Saturnália, quando Roma Antiga parava para festejar o deus Saturno. Segundo a mitologia, foi ele quem ensinou a prática da agricultura aos homens e, nesses dias de festa em que aconteciam em dezembro, os amigos se presenteavam com flores e alimentos típicos da estação.

 

Pegando carona nessa história, quem visitar o Inhotim durante o Carnaval será presenteado com sementes de palmeira licuri (Syagrus) e butiá (Butia) como forma de agradecer à natureza e ao público por fazerem do parque um lugar tão único e transformador. Essas espécies não foram escolhidas por acaso. Além de marcarem presença nos jardins do Inhotim, elas estão retratadas em diversas obras do artista Luiz Zerbini, expostas na mostra amor lugar comum, instalada na galeria Praça desde outubro de 2013.

 

Pintura e jardim: detalhe da obra "Lago Quadrado" (2010), de Luiz Zerbini, e a mesma planta no acervo botânico do parque.
Pintura e jardim: detalhe da obra “Lago Quadrado” (2010), de Luiz Zerbini, e a mesma planta no acervo botânico do parque. Fotos: Rossana Magri

 

Em referência à obra Olê ô picolê (2007), de Marepe (leia sobre o artista aqui), exposta na galeria Lago, os educadores farão intervenções junto aos carrinhos de picolé que circularão pelo parque. Os visitantes irão receber recortes de textos sobre o artista ou escritos por ele, num convite para conhecer seu trabalho.

 

Já os foliões-mirins poderão confeccionar máscaras de carnaval com materiais que seriam descartados. As ações acontecem pelo parque, de sábado (1/3) a terça-feira (4/3), de 10h às 12h e de 14h às 16h. Para saber mais clique aqui.

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… até agora

Everton Silva

Quando comecei a trabalhar no Inhotim em 2006, alguns dos meus colegas já estavam ajudando a plantar a semente deste projeto que temos hoje. Perto deles, não tenho uma história assim tão longa no parque. Para se ter uma ideia, tem gente que está aqui há mais de 20 anos, quando a região ainda abrigava a antiga Fazenda Inhotim, berço do que seria um instituto internacional, referência no Brasil e no mundo. De qualquer forma, também me considero parte importante dessa bonita trajetória.

 

Desde a minha chegada ao Inhotim, as coisas mudaram de forma esplendorosa. Há oito anos o parque não era como hoje, mas já estava além de tudo que eu tinha visto. Nasci em uma comunidade quilombola e me mudei para Brumadinho com 12 anos, acompanhando minha avó, que precisou trocar de emprego. Na época, o Inhotim tinha outro nome, menos visibilidade e recebia apenas escolas particulares e algumas pessoas convidadas. Coisa bem simples, que contava com uns poucos funcionários da área de educação. Diferentemente de hoje, não havia um monitor sequer.

 

Cheguei à instituição para ser tratador de aves aquáticas e logo me tornei o menino dos patos. Exercer a minha atividade era extremamente prazeroso. Mas uma das coisas mais decisivas da minha vida aconteceu nesse período: entrei em um curso de graduação em História. Confesso que, no começo, foi um pouco complicado, devido ao choque cultural que sofri. Não tinha intimidade com os estudos, afinal, dentro da minha família, não contava com influências e nem incentivo.

 

Finalizei a faculdade em 2009 e me transferi para a equipe de Educação Ambiental do Instituto, encerrando um ciclo fantástico para mim. Como mediador de visitas, o que mais gostava era de atuar com os alunos da Escola Integrada. Eram meninos, em sua maioria, muito carentes, e precisavam de apenas um olhar ou um carinho para que tivessem um dia fantástico.

 

2010 foi mais um daqueles períodos repletos de mudanças, quando me matriculei na faculdade de Direito. Eu colocava em curso mais um projeto de vida. Mudei para a equipe de Inclusão e Cidadania do Inhotim, na qual permaneço até hoje. O trabalho realizado não é simples, mas as conquistas são recompensadoras. Já desenvolvi projetos com a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Brumadinho (Ascavap), as comunidades quilombolas e o programa Inhotim para Todos. Cada um com a sua especificidade, mas todos gratificantes, pois atuam diretamente na transformação do indivíduo como ente social.

 

Essa é minha história no Instituto Inhotim até agora.

 

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A experiência da sedução

Renato Janine Ribeiro

Uma vida alcança significado, em boa parte, graças às revelações de que ela é feita. Provavelmente a primeira epifania que temos – pelo menos, enquanto não conhecemos mais sobre a vida intrauterina, que deve ser riquíssima – é a do nascimento. Nascer é uma experiência difícil, quase certamente sofrida, ainda mais porque se perde um ambiente acolhedor, cálido, molhado, protegido, para ingressar num vasto mundo que vai demorar muito para se constituir como bom; e não poucas vezes jamais chega a ser bom, nunca chega, sequer, a fazer sentido, a encontrar, este vasto mundo, uma rima que o redima. Mas, depois disso, vamos tendo revelações. Uma das peças publicitárias mais celebradas de nossa cultura – isso, sendo o Brasil um país que tem publicitários de primeira linha – é a do primeiro soutien que “a gente nunca esquece”: o rosto do menino iluminado, entre fascinado e chocado, ao ver pela primeira vez uma mulher somente de soutien, numa revelação talvez precoce, talvez não, da beleza feminina como sendo de ordem sexual. O erotismo surge assim como efração, como surpresa, como deslumbramento – e, como tudo o que deslumbra, como algo que eclipsa, ofusca, muda para sempre o modo de olhar as coisas.

 

Toda grande revelação é assim. Ela retira o véu que encobre o mundo, ela desvela, portanto, e ao mesmo tempo ela mostra a verdade, o que estava por trás do véu, o que se achava escondido. Seu primeiro efeito é o de preencher os olhos tanto, que nada mais sobra. Por alguns instantes, que podem parecer demasiado longos, a vista está tão cheia que somem os objetos; em seu lugar, aparece – o quê? Uma luz? Objetos novos? Uma chance de viver a vida de um modo diferente?

 

Vivo numa cidade que deve o nome a ter sido fundada no dia em que se festeja um cegamento. Pois seu patrono, Saulo de Tarso, perdeu a vista numa viagem a Damasco. Ele até então vivia perseguindo os cristãos, implacável. De repente, em plena estrada, fora de toda urbs, de toda civitas, de todo espaço urbano que protege e resguarda, uma luz o cega e uma voz o interpela. O episódio é conhecido, e não vou recontá-lo. A revelação de Cristo a seu perseguidor ofusca Saulo. Ele convalesce e se converte. Toda grande revelação só vale, pois, se ela opera uma conversão. Nada será como antes. O perseguidor se torna pregador. Saulo se torna Paulo. Perde o gentílico e se abre aos gentios. São Paulo nada mais tem a ver com Tarso. Ele deixa o local e se torna global. Provavelmente foi o primeiro grande globalizador da religião. O cristianismo, que poderia não ter passado de uma seita do judaísmo, quando muito de uma mudança no judaísmo, graças a ele sai da Terra Santa e parte para o mundo. Não será mais a religião de um único povo, mas uma que se dirige a toda a humanidade. Por isso, foi essa a mais célebre das conversões, seguindo-se à mais célebre das epifanias.

 

Inhotim é uma revelação. Não conheço ninguém que tenha visitado o centro de arte e não tenha saído – a palavra que empregam é geralmente uma destas – deslumbrado, impressionado. Eu tive o privilégio de ser apresentado ao centro por Cláudio de Moura Castro, que me trouxe um catálogo que, a cada imagem, causava essas impressões – marcas fortes que ficam na alma e, por vezes, no corpo – que não são deléveis. Ficam. Fui assim seduzido pelas imagens, antes de conhecer o lugar que celebra, justamente, imagens, pois que arte é isso, são imagens. Falei em “seduzir”, e a palavra é correta – pois seduzir é desviar (ducere) do caminho certo. Mas o que é certo, quando se trata de arte, de criação? O certo geralmente é o menos bom. O que vai gerar futuro começa geralmente por ser errado. As obras que estão em Inhotim, sejam as que cabem no conceito usual de imagem em duas dimensões, sejam as que se abrem para mais dimensões, inclusive a sonora, rompem com a doxa, com a ortodoxia, isto é, com a opinião dita correta. Elas desviam-se e desviam quem as frequenta. Esse convite ao torto, ao diferente, é uma das contribuições mais importantes que a arte contemporânea oferece a quem a vivencia (por isso mesmo, em Inhotim não há espectadores, que manteriam com os objetos a distância mais ou menos tranquila que vige entre um sujeito e o objeto que em nada o modifica). Inhotim não é feito para os Bourbons da legenda, que voltam ao poder na França em 1814, depois de um quarto de século exilados, “não tendo esquecido nem aprendido nada”. É uma experiência de vida que faz aprender muita coisa e, sem dúvida, esquecer outras – porque talvez não haja aprendizado sem essa faculdade, que Nietzsche dizia ser extremamente ativa, extremamente necessária para a criação, que é o esquecimento. A cultura que vale a pena é esta: a que modifica quem a frequenta.

 

Lembro Freud, num artigo de 1916, em que deplorava a Grande Guerra então em curso, recordando com nostalgia os tempos imediatamente anteriores, quando o homem culto viajava pela Europa como se cada país, cada cultura, fosse uma sala diferente de um grande museu. Nada define melhor a concepção do que não é Inhotim. O Centro de Arte Contemporânea não é um museu feito para as pessoas apenas se deleitarem apreciando objetos variados, que em nada as interpelem. É uma série de perguntas, quase um questionário que se dirige a cada um de nós, contestando-nos, oferecendo-nos prazer – sem dúvida –, mas também sucessivas dúvidas. E com isso temos revelações que são diferentes das que inspiraram o apóstolo, pois elas não trazem certezas, não entregam uma nova fé, uma ortodoxia que suplante as anteriores, mas questões, perguntas. Não é por acaso que Inhotim muda a cabeça de quem se acostumou a apenas se deleitar ante as obras de arte, retirando-os do mundo possivelmente blasê do connoisseur, ao mesmo tempo que fascina os jovens, aqueles de olhar virgem.

 

Termino com uma anedota veraz. Certa vez, encontraram-se os dois maiores filósofos que a França proporcionou ao mundo na segunda metade do século XX. Era por volta de 1970. Foucault disse a Deleuze: “Um dia, o século será deleuziano”. Queria dizer que os pensamentos tradicionais, os que remetem a Aristóteles, Descartes e Kant, não davam conta do que despontava entre os mais novos. Ora, é o que presenciamos desde pelo menos aquela época imediatamente posterior a maio de 1968. O mundo muda em alta velocidade e mal damos conta de entender, quanto mais teorizar, o que nasce diante dos olhos. Inhotim faz parte desse novo mundo. Podemos ter escassa teoria a respeito, mas nós o enxergamos. Por isso, certamente, os jovens aqui encontram tanto prazer.

 

 

*Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo e membro do Conselho Consultivo de Inhotim. Ele também faz parte do Programa Amigos do Inhotim desde 2011.

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O lugar certo

Redação Inhotim

Brumadinho completa hoje 75 anos e se tornou uma das cidades brasileiras mais citadas na imprensa nacional e internacional. Para além de abrigar o Inhotim, o que lhe tem rendido a notoriedade dos grandes destinos turísticos do país, a cidade guarda um rico patrimônio cultural e natural.

 

A população de cerca de 35 mil habitantes é formada por pessoas generosas e acolhedoras. As tradições religiosas e culturais das comunidades quilombolas da região são vivenciadas com o vigor de quem mantém no cotidiano o orgulho das raízes africanas. A vocação musical da cidade ganha vários ritmos nos instrumentos de suas bandas centenárias e nas vozes dos diversos corais que reúnem crianças, jovens e adultos.

 

A natureza também foi bastante generosa com a cidade. Dois importantes biomas do mundo, a mata atlântica e o cerrado, se encontram no mar de montanhas do território de Brumadinho. Durante boa parte do ano, as brumas encobrem as montanhas e a cidade e os dias se iniciam com um ar leve e fresco.

 

Logo, onde mais poderia estar o Inhotim? Em nenhum outro lugar do mundo. Por isso, nos orgulhamos de fazer parte dessa história.

 

Homenagem do Instituto Inhotim pelos 75 anos de Brumadinho.