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Uma praça que nunca mais será a mesma

Redação Inhotim

O céu azul e uma praça iluminada pelo sol em pleno sábado. Existe um motivo melhor para aproveitar o dia ao ar livre? A Praça de Aranha foi o ponto de encontro dos moradores do município de Brumadinho em uma tarde ocupada por cores, música, oficinas e muita alegria, no Festival de Rua Korocupá. O evento foi realizado pelos participantes dos projetos sociais do Instituto – Jovens Agentes Ambientais e Laboratório Inhotim – que vêm trabalhando as ideias para usar o espaço público de forma criativa há alguns meses. O resultado não poderia ter sido melhor: uma praça cheia de gente de todas as idades.

Desde o início do ano, os jovens têm se preparado para promover o festival, pesquisando diferentes formas de intervir na cidade dando novo uso a espaços não utilizados. Eles observaram que a Praça de Aranha precisava de mais bancos. Por isso, produziram junto a marcenaria do Inhotim os novos móveis que foram estreados no dia do evento. Para incentivar a convivência entre vizinhos e moradores, os jovens tiveram a ideia de construir um forno de barro para assar biscoitos durante o festival. Além disso, eles prepararam oficinas que ensinaram técnicas para desenvolver tintas e produtos, como esfoliante de pele e protetor labial, a partir de elementos da natureza.

Quem passou pela Praça de Aranha, ainda pode participar da Feira Grátis da Gratidão, onde roupas e sapatos eram doados ou trocados, e pôde ver a exposição de fotos de moradores feita pelos integrantes dos projetos. Os cliques foram resultado de uma pesquisa realizada pelo grupo que, com o objetivo de conhecer melhor os arredores da praça, entrevistaram a vizinhança e registraram cada personagem.

Em uma das oficinas, os moradores aprenderam como fazer tinta com ingredientes naturais e se divertiram testando os produtos.  Foto: William Gomes
Em uma das oficinas, os moradores aprenderam como fazer tinta com ingredientes naturais e se divertiram testando os produtos. Foto: William Gomes

A música tocou do início ao fim com artistas locais que foram prestigiar o evento, com samba, arrocha, coral de trombones e tubas e ainda a participação da Oficina de Percussão Inhotim. O final da tarde foi com a chuva de pó colorido ainda sob a luz do sol das 17h, que ainda aquecia o lugar. O Festival Korocupá terminou com a certeza de que conviver em harmonia e ocupar o espaço público com carinho e criatividade são as melhores formas de se aproveitar a própria cidade. O que ficou deste dia foram roupas coloridas e bancos novos para uma praça que nunca mais será a mesma.

A Praça de Aranha foi ocupada com atividades que levaram alegria e diversão aos moradores do distrito. Foto: William Gomes
A Praça de Aranha foi ocupada com atividades que levaram alegria e diversão aos moradores do distrito. Foto: William Gomes
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Da ideia à Praça

Lilia Dantas

Que caminho uma ideia faz até se transformar em realidade? Tentando responder a essa pergunta, apenas consigo afirmar que entre um ponto e outro quase nunca há uma linha reta. Quando um desejo surge e é compartilhado, começa a tomar forma e crescer. Ao final, já superou em muito o desejo que lhe deu origem e lançou novos impulsos para o futuro. O processo, assim, recomeça.

O Festival de Rua nasceu assim, em uma troca de ideias. Em 2014 teve a sua primeira edição realizada e se chamava Laboratório Mambembe. Convidou artistas de Brumadinho para se apresentarem, abriu espaço para uma tradicional feira de trocas e transformou a praça Antônio Carlos Cambraia, no Canto do Rio, em um espaço por onde crianças brincavam livremente.

Após a experiência do Festival Laboratório Mambembe, o nosso desejo de estar na rua e de educar para a convivência e a colaboração cresceu ainda mais. Percebemos que precisamos provocar situações para que os jovens participantes dos nossos projetos exercitem seu protagonismo, se percebam responsáveis e decisivos na preparação de algo que é um presente para a comunidade.

E assim nasceu o Festival Korocupá, palavra inventada que, na sua semântica do absurdo, é feita de duas outras fundamentais para essa festa: Cor + Ocupação.  Desde o início de 2015, os projetos Laboratório Inhotim e Jovens Agentes Ambientais têm se preparado para promover o festival. Para isso, pesquisaram e perceberam o que significa intervir na cidade, lançar luz sobre temas pouco discutidos ou mesmo dar novo uso a espaços subutilizados.

Esses jovens decidiram que a praça do Aranha, local que receberá o Festival Korocupá, precisava de mais bancos. Foi preciso então visitar a Marcenaria do Inhotim e o mestre Carlão para que aprendessem a construir bancos de madeira. Decidiram também que queriam construir um tradicional forno de barro na praça para que pudessem assar biscoitos durante o festival e esse desejo foi dos mais desafiadores: precisamos descobrir como construir um forno, encontrar alguém que soubesse nos ensinar a fazer (obrigada, Sr. Milton!), encontrar os materiais e, finalmente, construí-lo. O forno já foi feito, e está lá no Aranha, em processo de secagem, esperando o sábado chegar.

Jovens do Laboratório Inhotim construíram bancos de madeira com as próprias mãos para serem colocados na Praça de Aranha, onde o Festival de Rua Korocupá acontece. Foto: William Gomes.
Jovens do Laboratório Inhotim construíram bancos de madeira com as próprias mãos para serem colocados na Praça de Aranha, onde o Festival de Rua Korocupá acontece. Foto: William Gomes.

As ideias que se tornarão realidade no dia 26 são muitas. Todas passaram por diferentes caminhos até se concretizarem, mas todas foram pensadas pelos nossos alunos, para a comunidade do Aranha e quem mais vier passar o dia conosco. Você é nosso convidado!

Festival de Rua Korocupá
Onde: Praça de Aranha – Município de Brumadinho
Quando: sábado 26 de setembro, às 13h.

Confira a programação clicando aqui. 

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Afinal, qual é a cidade do futuro ?

Redação Inhotim

Conhecer de verdade o vizinho, o porteiro ou a associação do bairro onde vivemos é um bom começo para se entender a própria cidade. Já parou para pensar de onde vem a roupa que você veste? Já se perguntou a origem do alimento que você come? De simples questionamentos como estes, surgiu a ideia da consultora em sustentabilidade Denise Chaer em criar o Novos Urbanos, tema do bate-papo promovido pelo Inhotim, na última terça-feira. Com o auditório lotado, a carioca contou sua história de vida e falou sobre o trabalho que realiza para incentivar o sentimento de pertencimento de cada um com o objetivo de promover mudanças na cidade.

Depois de passar a adolescência vivendo em uma comunidade na Índia, Denise voltou para São Paulo e começou a trabalhar com grandes empresas, dedicando-se a jornadas longas de trabalho e conquistando um bom salário. Ao se ver consumista e sem tempo para simples prazeres, percebeu que não estava feliz com o ritmo acelerado de sua rotina, além de sentir uma necessidade em conhecer e entender a cidade onde morava. “Passei a investigar a minha própria vida e a refletir sobre o que eu realmente precisava. Comecei a repensar as relações com as outras pessoas e com o espaço urbano”, conta.

O auditório lotado recebeu a consultora em sustentabilidade na palestra da última terça-feira.
O auditório lotado recebeu a consultora em sustentabilidade na palestra da última terça-feira. Fotos: William Gomes

Com o tempo, a ideia do Novos Urbanos foi amadurecendo e se concretizando. Junto a profissionais de diversas áreas, o grupo busca  articular ações entre  sociedade, iniciativa privada e poder público a partir do comportamento de consumo, com o objetivo de fortalecer comunidades vulneráveis.  Para Denise, a atuação de coletivos nesses espaços é uma forma de tornar possível mudanças importantes para todos os moradores. “Coletivo é o novo sujeito político”, reflete.

Denise Chaer considera que a organização em redes é uma tecnologia social que pode transformar o mundo, especialmente, o espaço urbano. “Quando você não se apropria da sua cidade, alguém se apropria dela. A sua ausência também é uma forma de apropriação”. Denise acredita que as cidades do futuro não serão aquelas dominadas por robôs ou por altas tecnologias. “As cidades do futuro serão formadas por uma sociedade consciente, iluminada e terá poder por si mesmo para reconstruir o espaço urbano”, finaliza.

A conversa faz parte da programação do projeto Pessoas Pelo Clima, que conta com o patrocínio da IBM por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e apoio institucional da Fundação Clóvis Salgado.

 

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Inhotim, uma trajetória

Redação Inhotim

A pequena casa onde está instalada a obra de Rivane Neuenschwander é um mundo de lembranças para Tamara Oliveira. Quando entra ali, ela volta no ano de 2007 e revive os encontros semanais de quando integrava o Laboratório Inhotim, um dos projetos educativos mais antigos do Instituto.  De lá pra cá, a casa que era parte da antiga fazenda foi transformada para abrigar uma obra de arte.  “Eu volto e consigo ver as paredes, a escada, o fogão a lenha, como era quando tudo começou”, conta.  Aos 21 anos, Tamara cursa o 3º período de Psicologia e, desde 2013,  é mediadora do mesmo programa que participou quando criança. “O Inhotim faz parte do meu passado, e é também o meu presente”, diz.

Indicada por um professor de Geografia para participar do projeto aos 14 anos, Tamara aceitou mesmo sem saber muitos detalhes do que seria feito durante o semestre. “Eu conheci o Inhotim com a minha escola nesse mesmo ano, e me encantei. Quando recebi o convite para integrar o Laboratório, aceitei na hora”. A proposta dos encontros era a mesma que guia o projeto até os dias de hoje: explorar o parque com liberdade e sensibilidade para estimular um olhar crítico sobre Brumadinho e o mundo.  Com o fim dos dois módulos do projeto, Tamara tornou-se bolsista do Instituto, fazendo do Inhotim parte do seu dia a dia por mais dois anos.

O encontro com grandes artistas está entre as melhores lembranças da jovem, assim como a chance de ver o Inhotim crescer e se transformar ao longo desse tempo. “Me lembro do dia em que fomos com Jarbas Lopes e os fusquinhas para Brumadinho, e fizemos intervenções na cidade. Me lembro também do encontro com Chris Burden e de ver o Beam Drop nascendo” relembra. Durante todos esses anos, Tamara conseguiu ir longe. Foi  selecionada em um edital do Congresso Nacional da Federação  de Arte/Educadores (Confaeb) em São Luis do Maranhão,  onde apresentou a pesquisa desenvolvida ao longo do programa e ainda saiu do país pela primeira vez rumo à  Londres, junto ao Laboratório. Na viagem, ela conheceu de perto jovens integrantes de projetos parecidos da Tate, Museu de Arte Moderna do Reino Unido, após um ano de troca de experiências à distância. ” Além de tudo, era um sonho conhecer um país que fosse monarquia”, conta.

Com o fim da bolsa, surgiu a oportunidade do primeiro emprego como mediadora. Chegou a hora de viver o outro lado do Laboratório Inhotim . “Eu fico reparando neles e me vejo ali, com aquele medo do novo típico. É o primeiro encontro com a arte e cada um tem seu tempo. Eu procuro entender e respeitar isso”. Segundo a estudante, é difícil para um adolescente mensurar a dimensão dessa oportunidade. “O que eu vejo de especial nesse trabalho é que ele oferece um monte de possibilidades de olhares, mostra que tudo depende do ponto de vista. Muitas vezes só percebemos quão importante foi essa chance depois que saímos e crescemos”, avalia. Como mediadora, os dias são imprevisíveis e surpreendentes. “Acontece muito da gente planejar  toda uma dinâmica para o grupo e vem algum jovem com uma ideia nova e muda o rumo de tudo. Isso é fantástico”, diz.

Os dias no parque influenciaram em importantes decisões de Tamara, que sonha em continuar trabalhando na área de educação. Decidida a se dedicar mais à faculdade, ela reconhece a necessidade de deixar os trabalhos no Inhotim em breve, mas considera impossível a possibilidade de se distanciar de tudo que experimentou no Instituto. “Não tem como sair e deixar para trás o que passei aqui. Eu vou levar o Inhotim comigo pela vida, porque, depois de tantos anos, eu ainda consigo me surpreender com esse lugar”.

 

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Inhotim para Todos: entre universalidade e singularidades

Itamara Soalheiro

O acesso pleno à cultura é transformador. Em Inhotim esse pensamento se manifesta de forma particular no programa Inhotim para Todos. Criado como uma das ações de democratização do acesso ao Instituto, o programa estabelece parcerias com projetos sociais de instituições públicas ou de organizações da sociedade civil, garantindo entrada e acolhimento gratuitos ao parque. Para a comunidade de Brumadinho, o programa assegura, ainda, ações continuadas nas sedes dos projetos. Ao longo dos anos, o Inhotim para Todos acumula relatos que informam sobre seu alcance, diversidade e estímulo ao empoderamento.

A imagem de um casal de idosos caminhando de mãos dadas pelos jardins do parque  ilustra as experiências vividas por milhares de pessoas que visitaram o Inhotim com Grupos de Convivência e Fortalecendo os  Vínculos de Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Essas parcerias incentivam a  socialização e as escolhas autônomas durante as visitas, garantindo a inserção de grupos comumente não usuais em espaços culturais.

Grande parte do público do Inhotim para Todos é composta por pessoas da terceira idade. Não é raro encontrar uma idosa abraçando uma árvore enquanto realiza visita por meio do programa ou comemorando seus noventa anos com os colegas de Unidade Básica de Saúde (UBS), dizendo que conhecer lugares como o Inhotim é motivo para viver com alegria.

Momentos singelos demonstram como cada um sente e vive o Inhotim.
Momentos singelos demonstram como cada um sente e vive o Inhotim. Foto: Daniela Paoliello

Crianças e adolescentes que participam do projeto proporcionam outras formas de ver o programa. A facilidade com que decifram ou estranham uma obra de arte não apresenta oposição de ideias, mas pluralidade de olhares vindos de diversos lugares. Esses grupos chegam ao Inhotim diretamente de  casas de acolhimento, espaços para cumprimento de medidas socioeducativas ou escolas de teatro. Nesses visitantes é perceptível a ocorrência de deslocamentos e processos marcados pela inquietude, curiosidade e experimentação tão comuns na juventude.

Crianças se divertem no mundo monocromático da obra Desvio para o Vermelho (1967 - 1984), de Cildo Meireles.
Crianças se divertem no mundo monocromático da obra Desvio para o Vermelho (1967 – 1984), de Cildo Meireles. Foto: Rossana Magri

 

Experimentação é igualmente recorrente para os grupos de pessoas com deficiências atendidas pelo programa. Seus trajetos são marcados por escolhas sensoriais, valorizando espaços interativos, como o “Jardim de Todos os Sentidos” que propõe atividades envolvendo  os cinco sentidos humanos. Os relatos desses grupos sobre suas visitas são habitualmente detalhados, informando sobre as potencialidades e limitações do parque e destacando a extrema importância do atendimento oferecido pelos mediadores, monitores e condutores.

Grupos como esses inspiram a equipe do programa a pensar as relações entre os acervos do Instituto e o atendimento de públicos com suas diferenças. Pequenos momentos de beleza, como os aqui relatados, reforçam a crença no potencial transformador de Inhotim!