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O lugar certo

Redação Inhotim

Brumadinho completa hoje 75 anos e se tornou uma das cidades brasileiras mais citadas na imprensa nacional e internacional. Para além de abrigar o Inhotim, o que lhe tem rendido a notoriedade dos grandes destinos turísticos do país, a cidade guarda um rico patrimônio cultural e natural.

 

A população de cerca de 35 mil habitantes é formada por pessoas generosas e acolhedoras. As tradições religiosas e culturais das comunidades quilombolas da região são vivenciadas com o vigor de quem mantém no cotidiano o orgulho das raízes africanas. A vocação musical da cidade ganha vários ritmos nos instrumentos de suas bandas centenárias e nas vozes dos diversos corais que reúnem crianças, jovens e adultos.

 

A natureza também foi bastante generosa com a cidade. Dois importantes biomas do mundo, a mata atlântica e o cerrado, se encontram no mar de montanhas do território de Brumadinho. Durante boa parte do ano, as brumas encobrem as montanhas e a cidade e os dias se iniciam com um ar leve e fresco.

 

Logo, onde mais poderia estar o Inhotim? Em nenhum outro lugar do mundo. Por isso, nos orgulhamos de fazer parte dessa história.

 

Homenagem do Instituto Inhotim pelos 75 anos de Brumadinho. 

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Simplicidade e história

Redação Inhotim

Um dia-a-dia tão tranquilo quanto silencioso. Casas muito simples, espalhadas pelo terreno acidentado da região.  Uma música baixa, chiada, vinda de um rádio antigo colocado na janela é um dos únicos sons que embalam a tarde. Ali vivem pessoas acanhadas, cujo olhar mistura cansaço e esperança. Por vezes, seus olhos se enchem d’agua ao relembrar da infância ou de algum familiar distante. Esse é o cenário de quem chega em Marinhos e Sapé, duas das seis comunidades quilombolas espalhadas pelo entorno do município de Brumadinho (MG). Marinhos tem cerca de 200 habitantes. Sapé, um pouco menor, abriga aproximadamente 50 casas. As duas, no entanto, carregam consigo um passado de resistência e boas histórias.

 

A maioria dos moradores, principalmente os mais antigos, pode ser considerada um retrato vivo de um povo que luta por meio do trabalho. Localizada em uma região que costumava abrigar fazendas, muitos aprenderam a acordar ainda de madrugada e acompanhar os pais no serviço da lavoura. É o caso da dona de casa Maria Perpétua Socorro, 65 anos, nascida e criada em Sapé. “Quando éramos crianças, se trabalhava de sol a sol na roça. Meus pais me levavam junto com meus irmãos para ajudá-los todo santo dia. Foi assim que crescemos”, conta.

  Dona Perpétua foto Rossana MagriQuando mais nova, Dona Perpétua costumava ajudar na cozinha durante as festas típicas. Foto: Rossana Magri

 

O passar dos anos fez com que a realidade mudasse um pouco. Atualmente, com as novas práticas rurais, há apenas pequenas hortas domésticas no quintal dos moradores. “Hoje, graças a Deus, não existe mais isso. Digo assim porque no passado sofríamos muito”, afirma Perpétua. Os desejos e objetivos de quem mora nas vilas também mudaram. Se antes o caminho quase que invariável era casar e continuar na região, hoje os jovens estão saindo cada vez mais para centros maiores. “Aqui não tem muito emprego, maneiras de estudar mais, então eles acabam saindo quando crescem”, conta Antônio das Graças Silva, marido de Perpétua, que tem dois filhos.

 

Mas apesar da nova realidade, algumas práticas e antigos valores ainda são transmitidos de pais para filhos nas comunidades quilombolas de Brumadinho. As festas típicas e os cultos religiosos resistem ao tempo e são verdadeiros patrimônios culturais do estado. As chamadas Guardas de Congo e Moçambique, organizadas pela população, desfilam várias vezes ao ano, trazendo cores e cantos que preservam as crenças locais. Seja tocando algum instrumento, carregando a coroa ou mesmo ajudando na cozinha, o importante é não deixar morrer a tradição.

 

Cortejo Congo Moc?ambique foto Rossana MagriCortejo Congo Moc?ambique mistura passado, presente e futuro. Foto: Rossana Magri

 

A professora Nair de Fátima Santana, residente de Marinhos, participa desde nova das festas e ressalta que elas são fundamentais para resgatar a memória e as origens da região. “As celebrações mostram um pouco do que éramos e do que somos”, diz. De acordo com ela, há pouco tempo o termo “quilombola” ainda costumava incomodar. “Eu não gostava de ser reconhecida assim porque pensava que isso denominava alguém que sofreu, que não tinha perspectiva. Mas, com o tempo, me dei conta de que só estava negando a minha própria existência. Hoje vejo que ser quilombola é ser fruto de um povo carregado de significados. É justamente durante nossas comemorações que somos abençoados. Tentamos passar parte dessa história para as nossas crianças aqui na escola”, conclui orgulhosa.