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Dias que parecem não passar

Julio Le Parc

Inhotim até logo

Inhotim o de antes de conhecê-lo

lá ficou

atrás

naquelas informações fragmentadas

e

naquelas imagens de

ilustrações em cores

 

O outro Inhotim

o vivido em cinco dias

está aqui em mim

com sua força tranquila

com a presença

dos seus dias

que parecem não passar

e ficam gravados.

 

Conjugação

natureza-arte

arte-natureza

 

Mas a gente

não se engana

essa

natureza é arte

 

Com que sabedoria se conseguiu fazer

que aquela arte ali

não fosse fagocitada

por aqueles verdes múltiplos

aspirando o céu.

 

E as ressonâncias

dessa soberba natureza

ao entrar nos pavilhões

tem um eco naquilo vivido neles

transportando-se

em um novo eco para fora.

 

E esse ir e vir vai tecendo um

laço harmonioso

criando um estado mágico

que parece fora do mundo

mas com a realidade no fundo.

 

Natureza-arte-púlico

público agente vinculador

e

nós somos esse público

menino, jovem, maduro

destinatário único

recriando um mundo

 

E nesse caminhar por Inhotim

transmite uma alegria de vida

que vem da relação ativa com o que

está recebendo.

 

Lentamente

com gula

a gente vira

cidadão do Inhotim

cidadão incondicional

 

Tantas coisas vividas com um

espírito calmo mas de maneira

acelerada em que os detalhes

se telescopeiam

se metamorfoseiam

e passam

e passam de novo na gente

trazendo sensações pequenas

intensas

que reconstituem

um todo em movimento

sem ser percebido em sua totalidade

aquilo vivido

nos faz sentir que um todo está ali

que flutua na nossa frente

que se fixa na gente

com aquilo visto pelos nossos olhos

com aquilo descoberto pelos nossos pés

com o esforço alegre de amanhecer

em alta velocidade

múltiplas facetas do todo.

 

Ordenações dentro dos pavilhões

ordenações naquilo iluminado pelo sol.

 

Sem nenhuma dúvida ordenação

de uma vontade com uma

sensibilidade à flor da pele

em uma mente única

e isso se chama:

criação!

 

Inhotim é uma criação inventada

produto de uma

capacidade visionária única

que trabalha aquilo que se chama

utopia

com aquilo que cresce a partir do chão

e esse criador tem um nome e um sobrenome:

Bernardo

Honrado por poder contribuir

com meu grãozinho de areia nessa criação!

 

 

Cachan, França

Junho, 2014

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Crescendo com o Inhotim

Elton Damasceno da Silva

Relatar uma experiência marcante nesses meus oito anos de Inhotim não é uma tarefa simples, ainda mais tendo participado de tantos projetos grandiosos. Em De Lama Lâmina (2009), de Mathew Barney, confeccionei os moldes da árvore e de algumas ferramentas que estão presas à escultura. Em Celacanto Provoca Maremoto (2004-2008), da Adriana Varejão, participei desde o preparo das telas até a instalação das mesmas na galeria. O Sonic Pavilion (2009), de Doug Aitken, deu muito trabalho quando tivemos que subir e descer mais de 200 metros de cabos. Na medida em que os testes de áudio eram realizados, todos ficavam espantados com os sons que existem em certas profundidades da Terra.

 

O Beehive Bunker (2006), de Chris Burden, colocou minha força física to the test, pois toda a obra foi feita manualmente, até mesmo a tampa de bueiro que fica em seu topo foi colocada por nós, da equipe de produção. O Beam Drop (2008), também de Burden, transmitiu-me uma leveza e, ao mesmo tempo, uma brutalidade em sua confecção, que até hoje me emociono ao ver a performance da montagem. Restore Now (2006), de Thomas Hirschhorn, me colocou em contato com o grande acervo literário que compõe a obra e forçou-me a desenvolver minhas funções com um olho no trabalho e outro nos livros! Pude ler excelentes obras, como A historia da sexualidade vol.1, de Michel Foucault, Responsabilidade e julgamento, de Hanna Arendt e Ecce Humo, de Friedrich Nietzsche, sem contar vários outros títulos que estão em minha lista para um futuro próximo.

 

Tenho um enorme carinho por todos os trabalhos que montei no Instituto, mas os de John Ahearn e Rigoberto Torres, os painéis Rodoviária de Brumadinho (2005) e Abre a porta (2006), são de uma importância indizível para mim, pois comecei a desenvolver um deles antes mesmo de conhecer o Inhotim. Eu trabalhava em um ateliê de arte em Belo Horizonte e meu primeiro contato com os artistas aconteceu lá.

 

Depois de algumas negociações entre o estúdio e o Inhotim, Lucas, meu atual gestor, acompanhado pelos artistas, levou dois fragmentos do ônibus para que confeccionássemos os moldes. Quando me viu, John disse que confiava em mim e sabia que eu iria fazer um bom trabalho. Fiquei muito empolgado e o resultado foi a satisfação coletiva. Em seguida, nos foi dada a tarefa de moldar um ÔNIBUS! Fiquei muito surpreso, nunca havia feito algo tão grande assim, mas aceitei o desafio e realizei um bom trabalho. Depois disso, tornei-me o mold maker oficial, que desenvolveria os trabalhos para John e Rigoberto. Depois de terminarmos o primeiro painel, Rodoviária de Brumadinho, Lucas me convidou para trabalhar no Inhotim, mas, dessa vez, como um membro oficial da equipe. Iniciava-se, então, essa duradoura parceria.

 

"Rodoviária de Brumadinho" (2005) retrata a vida dos moradores da região e seus costumes. Foto: Eduardo Eckenfels
“Rodoviária de Brumadinho” (2005) retrata a vida dos moradores da região e seus costumes. Foto: Eduardo Eckenfels

Logo quando cheguei ao Instituto, pude perceber claramente a necessidade de se falar um segundo idioma. A quantidade de estrangeiros que orbitavam e orbitam por aqui é incomensurável. Assim, já no meu primeiro mês comecei a comprar fascículos semanais da Revista Época, que vinham com um livro e um DVD que ensinavam inglês. Também adquiri um dicionário de espanhol. À noite, estudava e, durante o dia, colocava em prática o que ia aprendendo. Ao ver meu empenho com os estudos, John, no final do expediente, reservava um tempo para praticarmos algumas palavras que seriam úteis em nosso dia a dia. Um ano depois eu já estava dominando o inglês, o que certamente corroborou para meu crescimento na equipe.

 

Desde então, venho aprimorando minha mão de obra. Estou no quinto período do curso de Historia e, no próximo ano, farei uma pós-graduação em Arte Contemporânea, Restauro ou Filosofia. No Inhotim, sou movido pelas possibilidades e perspectivas de futuro, que, para ser sincero, não são poucas.

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Laboratório Inhotim viaja para Nova York

Redação Inhotim

Projeto educativo mais antigo do Instituto, o Laboratório Inhotim está de malas prontas para conhecer uma das cidades mais vibrantes do mundo. Como parte das atividades do programa, nove alunos seguem para Nova York na próxima quinta-feira, 17/07, para uma experiência de observação e aprendizado, que inclui visitas a museus, espaços culturais, eventos e ateliês de artistas. “O Inhotim é um espaço que propõe diálogos internacionais por meio de seus acervos. Temos obras de arte e espécies botânicas de diversos lugares do mundo. No Laboratório Inhotim, também buscamos essa troca. Conhecer novos lugares e pessoas é ampliar horizontes, ajuda a entender nosso lugar no mundo, gera empoderamento”, reflete Maria Eugênia Salcedo, gerente de educação transversal do Inhotim.

 

Um dos pontos altos da agenda do grupo é uma festa de rua organizada pelo New Museum, museu dedicado exclusivamente à arte contemporânea. A programação do evento, batizado de New Museum Block Party, inclui performances e workshops, gratuitos para crianças e adultos e inspirados nas exposições em cartaz na instituição. Parte da produção da Block Party fica por conta dos jovens dos projetos educativos do museu. A ideia é que, por meio dessa experiência, os participantes do Laboratório Inhotim possam liderar a organização de um festival em Brumadinho, no mês de novembro, propondo uma nova relação com os espaços da cidade.

 

Millene Raissa Paraguai, 14 anos, é aluna da Escola Municipal Maria Solano Menezes Diniz, no distrito de Tejuco. Ela aguarda ansiosa a hora de embarcar pela primeira vez em um avião. “Vou levar essa experiência para a vida toda. Fico muito alegre em participar do Laboratório Inhotim. Hoje, quando vou ao parque, tenho um olhar diferente sobre a arte e também sobre a vida”, revela a adolescente. Com relação à festa, ela conta que quer prestar atenção em todos os detalhes para ver que ideias podem ser aproveitadas no evento de novembro. “Cada realidade é diferente, o que dá certo lá, pode não dar aqui”, avalia.

 

O Laboratório Inhotim é um programa de formação por meio da arte voltado para alunos de 12 a 16 anos da rede pública de Brumadinho. Ao realizar pesquisas e experimentações, os participantes desenvolvem um olhar crítico e reflexivo não apenas para o universo artístico, mas para todo o contexto em que estão inseridos, tornando-se agentes ativos em suas comunidades. Cerca de 200 jovens já passaram pelo Laboratório Inhotim desde seu início, em 2007. Além de Nova York, o projeto já levou jovens para Londres e Buenos Aires.

 

Ficou curioso para saber como será essa jornada? Durante a viagem, o Blog do Inhotim vai postar depoimentos e relatos dos participantes e educadores que vão para Nova York. Não deixe de conferir!

 

Se você quer ajudar o Instituto a realizar projetos como esse, clique aqui e torne-se um Amigo do Inhotim.

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Brumadinho mais verde

Redação Inhotim

Durante o mês de junho, um grupo de 15 jardineiros do Inhotim trabalhou em uma proposta especial: deixar a cidade de Brumadinho mais verde. Por meio de uma parceria com a Prefeitura do Município, o Instituto doou à cidade um projeto paisagístico assinado por Pedro Nehring, responsável pelos jardins do parque, além de todo o material para realizá-lo.

 

Foram mais de 500 plantas, como palmeiras, orquídeas, sálvias e agaves, que, agora, enfeitam canteiros e praças. As espécies escolhidas fazem parte do acervo do Inhotim e se adaptam melhor ao ambiente urbano, por isso foram escolhidas por Nehring. “Frequento Brumadinho desde o início dos anos de 1980, quando comecei a construir os jardins que hoje fazem parte do Inhotim. É um orgulho ser o responsável por levar a beleza do parque às ruas de Brumadinho”, revela o paisagista.

A palmeira azul foi uma das espécies doadas pelo Inhotim para a cidade. Foto: Rossana Magri
A palmeira azul foi uma das espécies doadas pelo Inhotim para a cidade. Foto: Rossana Magri

Os moradores da cidade acompanharam de perto a mudança e aprovaram os novos espaços. “Achei que tudo ficou muito bacana. Brumadinho precisava dessa mudança e acredito que seja o início de uma reformulação maior”, avalia Lucas Amorim, comerciante da região central. A intervenção foi apenas uma das etapas do projeto. Ainda este ano o Inhotim realiza novos jardins para a cidade, dando continuidade à parceria.

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Descentralizando o Acesso

O Descentralizando o Acesso é um projeto educativo do Instituto Inhotim realizado desde 2008, que oferece ao educador da rede pública de Brumadinho e região um contato abrangente com a arte. Por meio de encontros de formação, visitas com alunos e atividades dentro e fora do Inhotim, educadores e estudantes se tornam protagonistas na realização de práticas educativas em sala de aula.

 

Meu primeiro contato com o projeto aconteceu em 2013, na Escola Municipal Altidório Amaral, em São Joaquim de Bicas, onde ainda trabalho. A partir daí, tenho sido atravessado por experiências múltiplas que alcançam meus alunos, suas casas, suas ruas e comunidades. O Descentralizando o Acesso é permeado pelo diálogo do Inhotim com seu entorno, criando territórios abertos a trocas e experimentações.

 

Um dos grandes momentos do programa é a visita com os alunos, na qual, acompanhados de dois mediadores, podem vivenciar o acervo do Instituto e interagir com o mesmo de forma única. Quando participo dessas visitas com minha turma sempre se faz uma surpresa, um momento que se deseja eterno.

 

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Após visita ao Inhotim, alunos da Escola Municipal Altidório Amaral realizam atividade inspirada na obra do artista Yves Klein, famoso pelo tom de azul que leva seu nome. Foto: Daniela Paoliello

As vivências da visita e seus desdobramentos na escola podem ser compartilhados por meio da Rede Educativa, plataforma virtual para a troca de experiências em arte-educação entre os participantes do projeto. Além de viabilizar um diálogo contínuo do Instituto com o educador, a escola e seu público, a Rede Educativa é um espaço acolhedor para quem trabalha com arte na escola e deseja ampliar nela seus horizontes.

 

Descentralizar o acesso é oportunizar a descoberta da energia pessoal em cada um por si próprio. Abre-se espaço e, desse novo lugar, emergem novas possibilidades e olhares. Acompanhados pela equipe do projeto, por diversos meios, professores tornam-se propositores; seus alunos, colaboradores de uma educação que se faz no conjunto, na troca incessante. O Descentralizando o Acesso, eu vejo, é uma plataforma para a interação com a arte e, por meio dele, ela se espalha.