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O aroma da floresta Yanomami no Inhotim #Ensaio1nfinit0

Claudia Andujar

Vejo a galeria Claudia Andujar como obra permanente, um trabalho que comunica uma intimidade com um povo indígena amazonense, recentemente conhecido, os Yanomami, cuja vida e cultura me marcou profundamente.   Ela é o que mais me liga ao tortuoso caminho da vida, e me faz acreditar na importância de ter tido a oportunidade de compartilhar com  eles sua cultura, o conhecimento de sua vida.

Através desse trabalho de uns 40 anos, tenho agora a oportunidade e liberdade de oferecer meu olhar aos outros, de mostrar como enxergo esse povo. Eu espero que quem vem conhecer os Yanomami no pavilhão, em Inhotim, compartilhe  o que enxerga e entendam como vejo minha ligação com a vida deles, um povo que vive no meio da floresta Amazônica,  junto dela, e dependendo dela.

É uma população que continua a falar sua língua ancestral, ou vários dialetos da mesma língua, unidos pela crença e pratica  do xamanismo,  eles se comunicam através dela com o mundo dos espíritos para remediar os males que os afligem.

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Galeria reúne cerca de 500 fotos da artista. Foto: Daniela Paoliello

Os vários conjuntos de imagens estão lá para proporcionar o aroma da floresta, encontrar o olhar desse povo, o êxtase  do xamanismo. Elas estão lá para contemplar as luzes das malocas que levam  ao caminho do mundo de cima, um primeiro mundo, cujos seres caíram para formar o mundo em que vivemos hoje, nosso mundo, a momentos de amor pelo outro, e aos perigos do contato com o mundo dos brancos.

Encontrei em Inhotim amigos que me ajudaram a criar o pavilhão, entre outros, o curador Rodrigo Moura, que compreendeu meu pensamento e me  ajudou a transmitir a mensagem dos conjuntos de imagens.  Trabalhamos cinco anos juntos. O dono de Inhotim, Bernardo, que me permitiu realizar esse sonho.  Ele me hospedou inúmeras vezes, com muita atenção, em sua casa, em Inhotim,  durante a montagem do pavilhão.

Eu dei minha alma a esse projeto.

 

 

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Performances de Tunga marcam 10 anos do Inhotim

Redação Inhotim

Em 2002, quando a galeria True Rouge foi inaugurada para abrigar a obra do artista Tunga, o Instituto ainda não era aberto ao público. Na ocasião, durante uma cerimônia feita apenas para alguns convidados, uma das típicas performances do artista marcou o início do que viria a ser o Inhotim: a interação entre arte, arquitetura e natureza. Nesse dia, atores nus interagiram com os recipientes que contêm um líquido viscoso, vermelho, e os derramaram sobre si e sobre os vidros, remetendo aos ciclos vitais. A performance era o que Tunga gostava de definir como instauração, o momento em que a obra de arte é ativada por meio de interações humanas para ganhar sentido. Durante a programação que comemora os 10 anos do Inhotim, uma homenagem a um dos artistas mais influentes da história do Instituto resgata outras instaurações, relembrando trabalhos que eternizaram Tunga dentro e fora do Inhotim.

O tributo começa na Noite Aberta, 3 de setembro, quando as instalações True Rouge (1997) e Deleite (1999) ficam disponíveis para visitação noturna. No dia 8, a Galeria Psicoativa é o cenário para a realização de “Xifópagas Capilares Entre Nós”, às 11h e às 13h, já apresentada uma vez no Inhotim, em 2012, durante a inauguração da Galeria Psicoativa Tunga, o maior pavilhão do Intituto. Nesta intervenção, duas meninas gêmeas se vestem com uma única peruca, que as une pelos cabelos, e caminham pelo espaço.

No mesmo dia, o Inhotim estende seu funcionamento para dar continuidade às comemorações. Às 17h, próximo a obra Deleite, narrativas escritas por Tunga serão lidas por convidados e distribuídas ao público em uma edição comemorativa. Esse momento busca resgatar um importante elemento da obra do artista, que considerava as narrativas espécies de performances feitas por palavras. “Essa evocação das palavras pode fazer construir mentalmente um jardim ou apenas olhar o jardim com outros olhos”, explicou certa vez em entrevista à revista Carbono.

Já às 19h, a coreógrafa Lia Rodrigues, parceira de trabalho de Tunga, coordena uma nova apresentação de True Rouge, realizada por último no Inhotim em 2004, antes da abertura da instituição ao público. Homens e mulheres nus espalham gelatina vermelha por seus corpos e pela obra enquanto o material vai se depositando nos vidros e piso da galeria. Especialmente para a ocasião, o Restaurante Tamboril fica aberto para o jantar com um buffet vermelho, com pratos que trazem ingredientes na cor que tem forte presença no trabalho de Tunga.

No dia 9, “Xifópagas Capilares Entre Nós” é apresentada novamente às 14h na Galeria Psicoativa. Às 15h, no mesmo espaço, é a vez da performance Make-up Coincidence, em que um casal nu maquia as esculturas de A Prole do Bebê (2002) com giz, pasta de maquiagem, gelatina e esmalte cerâmico ao mesmo tempo em que passa os materiais no corpo. No espaço, também acontece uma nova sessão de leitura das narrativas de Tunga.

A homenagem marca a primeira década do Inhotim relembrando a arte transgressora que o artista eternizou por meio de experiências radicais diversas. Com as performances e com a presença dos trabalhos expostos nas galerias True Rouge e Psicoativa, Tunga transformou espaços em lugares vivos de experimentação.
Confira a programação completa dos 10 anos do Instituto e garanta seu ingresso.

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Ponte para a beleza #Ensaio1nfinit0

Bernardo Paz

Parto do princípio que os grandes temas da humanidade já foram escritos, traduzidos e adaptados para a linguagem popular e todos esses registros estão embutidos no raciocínio coletivo. Dessa forma, creio que as pessoas atuam dentro da razoabilidade dos pensamentos dos letrados, dos intelectuais, dos empresários, das classes menos favorecidas economicamente. Posso ser criticado pela intelectualidade, mas leio muito pouco. Exercito meu raciocínio na maior parte do tempo e, por isso, passei a ter um conhecimento generalizado, o que me permitiu ultrapassar obstáculos ao entender a formação cultural dos povos e dos vários estratos da sociedade.

Desde a minha infância observei a beleza da arte de Guignard e da minha mãe e das pessoas que me cercavam à época. Busquei a beleza traduzida no ambiente em que vivia, no horizonte. E esse sentido de beleza foi se refinando à medida em que estabeleci contato com pessoas especializadas de muitas áreas de conhecimento. Na verdade, acredito, as pessoas deveriam nascer aos 40 anos para não cometer os erros da juventude. Nessa idade você já absorveu a cultura necessária à busca de seus objetivos. Foi por volta dos 40 anos de idade que comecei a fazer o Inhotim.

Inhotim nasceu de uma semente apropriada por mim, pela convivência com Roberto Burle Marx e com os grandes parques do mundo, pela minha curiosidade com o que podia se tornar uma surpresa. Tudo tinha de ser alinhado ao belo. E o belo pode e deve ser desenvolvido sempre na observação da contemporaneidade.

A concretização inicial foi muito difícil, pois pessoas com raciocínio genérico têm dificuldade em se fazer entender por serem exigentes e buscarem sempre processos longitudinais e com profundidade. Uma consequência é que os que acompanham essa concretização acabam realizando o trabalho sem ter ideia do que se está construindo. A minha infelicidade é que os sujeitos que realizam esse processo intuitivo não são os mesmos que aproveitarão do sucesso ou fracasso do objeto feito. Muitas ficam pelo caminho, por não observarem que a grandeza não partiu delas e, às vezes, por não conseguirem valorar algo que se tornou grande.

Construir Inhotim significa entrega. Normalmente as pessoas trabalham com planejamento, caixa e recursos. Algumas planejam sem recursos e sem caixa. Poucas pessoas, muito poucas, conseguem – pelo fato de terem se habituado a lidar com a intuição e com fragmentos do conhecimento da sociedade – penetrar nos meandros do labirinto que é a vida, já sabendo que do outro lado desse labirinto se pode constituir uma ponte para a beleza. Essa ponte é tão importante, tão forte, que ultrapassa os limites do financeiro e do pragmático e entra no limite do sonho e da realização.

E, então, se coloca o desafio de lidar com o tempo. É preciso observar que há de se considerar dois tipos de tempo. O primeiro é um período muito curto, o tempo da existência do ser humano. O outro é o tempo da execução e da realização. Pelo fato de o período da vida ser curto é preciso ser muito rápido. Se você tem a rapidez necessária, muito provavelmente durante a sua vida poderá realizar boa parte de seus sonhos. E, muitas vezes, eles podem significar uma seta para o futuro.

Mas há uma outra questão relacionado ao tempo hoje. A sociedade gera um volume de tecnologia e de informações que ainda não está preparada para mobilizar. As pessoas que produzem as tecnologias perdem rapidamente o controle sobre o que fizeram e os produtos passam a ser aperfeiçoados por segmentos diversos da sociedade em uma velocidade absurda. E assim o mundo se tornou um mundo instantâneo. Essa instantaneidade, julgo, não está sendo bem observada. Ela tem de deixar de ser “instantânea” para ser a formação do próprio pensamento. Em meio a esse processo, aparecem os artistas que passam a se debruçar sobre a crítica, sobre a política e sobre as carências da sociedade. Isso está intrínseco na arte contemporânea, afinal, o artista tem a sensibilidade de antecipar aquilo que ainda não é visto. Basta lembrar que o formato mais violento, mais radical da arte contemporânea foi protagonizado por Marcel Duchamp, quando tornou o urinol em um objeto de arte. Muitos questionam “Por que o urinol?” Porque ele desnuda todos os conceitos de beleza, de riqueza e de tradição.

O Inhotim também é uma observação clara de um idealismo nacionalista que digeri pelos hinos que propagavam as grandes conquistas que meu pai cantava para eu dormir na minha infância e que me tornaram uma pessoa extremamente infeliz. Entre o que meu pai cantava e o que eu acreditava que poderia fazer na vida, a distância se mostrava muito grande. Desde a infância, passando pela minha juventude, eu tenho tentado buscar esse ideal. Mas ainda não alcancei.

Inhotim é uma semente, é o princípio de um começo e o fim está longe. Gostaria que todos tivessem acesso a muita tecnologia, mas rodeados dos princípios básicos do Inhotim: sustentabilidade, segurança, beleza e cultura. E que, a partir dessa obra criada pelo viés da generalidade, as pessoas absorvessem tudo o que foi pensado para construir o Inhotim e possam partir dali para adiante.

Afinal, como construí Inhotim? Com paixão e achando que com doze jardineiros e eu plantando junto iríamos fazer este lugar. O que significam agora os dez anos de Inhotim? Nada. É um tempo que já se passou. O Inhotim continuará sempre ainda por vir.

 

*Esse é o primeiro relato do #Ensaio1nfinit0, uma das ações que comemora os 10 anos do Instituto #1nfinit0 #inhotim1nfinit0 #Inhotim10anos

 

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Aprendendo divertidamente – Colônia de Férias Pequenos Propositores

Redação Inhotim

Com muita alegria e diversão, a Colônia de Férias Pequenos Propositores propõe atividades em período integral para crianças de 6 a 11 anos a partir do dia 16 de julho. O grupo será convidado a experimentar diversas possibilidades de visitação, de forma lúdica, percebendo que, para conhecer o Inhotim, é preciso olhar de longe e olhar de perto, dialogando corporalmente, descobrindo novas formas de sentir os acervos artístico e botânico a partir de temáticas transversais.

Enquanto os responsáveis visitam Inhotim, as crianças, acompanhadas pelos educadores do Instituto, realizam uma visita que inclui atividades práticas, tendo como objetivo produzir diferentes significados sobre os acervos artístico, botânico e histórico-cultural do Instituto. A Colônia pretende construir estratégias pedagógicas não formais para a promoção da autonomia e o exercício da criatividade a partir de conceitos em educação ambiental, arte contemporânea, memória e patrimônio e através do aprendizado coletivo.

Na parte da manhã, as crianças participantes da Colônia são convidadas a conhecer os acervos botânico, artístico e histórico-cultural do Inhotim a partir do laboratório de bolso, uma das principais ferramentas para ativar a mediação da visita.  Os materiais inseridos na bolsa são práticos e propositivos e a escolha destes está relacionada à experimentação e apropriação de jardins e galerias, fazendo com que o grupo saiba mais sobre a história do Instituto, de forma divertida. Nesse momento, as crianças experimentam diversas possibilidades de visitação, tendo cada dia um tema diferente como foco.

Na parte da tarde, a partir das experiências de visitação, as crianças são instigadas a propor experimentações a partir de atividades práticas com educadores do Instituto, colocando em ação o que aprenderam e relacionando o que foi visto no período da manhã de maneira lúdica e livre.

Confira a programação:

Quinta-feira: Brincando com a Diversidade
Muitas pessoas dizem que o Inhotim é um mundo a parte, mas na verdade ele é um pouquinho de cada canto do mundo, expresso em seu acervo artístico, histórico-cultural e botânico. Convidamos as crianças a descobrirem e se encantarem com a diversidade presente nos acervos, através de jogos, brincadeiras e muita diversão!

Sexta-feira: Descobrindo a Natureza
Em um dia de muita aventura e descobertas, os pequenos serão incentivados, a partir do exercício da criatividade, a desbravar a natureza do Inhotim: presente nos jardins e na arte além de refletir sobre a temática ambiental.

Sábado: Explorando os Sentidos
As crianças serão convidadas, a partir dos acervos do Instituto, a inventar novas maneiras de sentir, aproximando o mundo que já conhecem com este novo território: o Inhotim. E a partir destas descobertas, vão criar, experimentar e o mais importante: brincar muito!

Domingo: Investigando o Tempo
Como explicar a uma criança sobre o tempo? O tempo das plantas e de cada ser vivo pode ser compreendido de diversas maneiras. A atividade propõe buscar perguntas e respostas sobre o tempo livremente, transitando entre arte e meio ambiente nos espaços do Inhotim.

Quando: 16 a 31 de julho; sempre de quinta a domingo
Faixa etária: 6 a 8 anos (grupo 1); 09 a 11 anos (grupo 2)
Horário: 9h30 às 16h
Local de encontro: acolhimento dos grupos na Recepção
Inscrições: 3571-9796 / 3571-9783 / 99737-6366 // escolas@oturi.com.br
Valor: R$ 170,00 – para uma criança e um dia
R$ 300,00 – para irmãos e para dois dias
Incluem: entrada no Inhotim, lanche de boas-vindas, almoço e lanche da tarde

 

 

 

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Tunga (1952-2016) – In memoriam

Marta Mestre

A história do Inhotim está intrinsecamente ligada à obra e pensamento de Tunga. Contá-la é evocar, no passado, presente e futuro, o nome deste artista maior que funda uma obra sem categorias, sem gavetas, e nem principio, meio ou fim.

Essa ideia de puzzle infinito, que se desdobra dentro de si próprio, e se expande no tempo, foi intensamente explorada nas galerias que Tunga concebeu para o Inhotim: “True Rouge”, inaugurada em 2002, e a Galeria Psicoativa, em 2012.

Ambas formam o maior conjunto de obras de Tunga permanentemente exposto no Brasil e no exterior, com trabalhos desde o início da década de 80 até aos anos 2000, e expressam o compromisso do Inhotim em pesquisar, divulgar e preservar a sua obra e pensamento, iguais a ele e ao seu discurso. Livre, contraditório, eloquente, transgressor, visionário, poético, solar, soturno, e pleno de humanidade. Um universo de partículas em aceleração, de elementos, como ele dizia, soltos e “bagunçados”, que continuarão a desafiar os significados e significantes habituais.

Talvez seja essa a grande experiência que nos deixa. Que o espanto é a condição para inventarmos um mundo novo, não necessariamente melhor ou mais acolhedor, mas potencialmente inscrito na nossa imaginação. E que é hora de abandonarmos o lugar de espetador e de lançarmo-nos na ambiguidade, contradição e finais incompletos que fazem da poética de Tunga uma verdadeira ética de vida.

Certos que jamais poderemos “domar” a densa materialidade e substância do espírito de Tunga, e que foi um enorme privilégio termos participado das suas mais altas aventuras, cabe-nos agora manter vivo o seu legado. Temos muito trabalho pela frente, e uma só maneira de encara-lo: apaixonada e intensamente, como Tunga nos ensinou.

O Instituto Inhotim expressa as suas sinceras condolências a todos os familiares, amigos e colaboradores de Tunga.