Pular para o conteúdo
Leitura 4 min

Novas exposições no Inhotim

Redação Inhotim

A partir de 4 de setembro, quem visitar o Inhotim vai poder conferir diversas novas obras. Artistas do Leste Europeu, Ásia e Estados Unidos propõem um novo olhar sobre a produção artística contemporânea.

 

Segundo o diretor de arte e programas culturais do Instituto, Rodrigo Moura, nos últimos 10 anos, houve um aumento do interesse mundial pela arte latino-americana e de outras regiões que fogem aos centros hegemônicos de produção. “Esse movimento está muito ligado a uma perspectiva de descentralização das narrativas. Nesse contexto, entendemos que o papel de um espaço como o Inhotim não é apenas colecionar nomes consagrados, mas introduzir outros, menos conhecidos por aqui”, afirma.

 

Uma nova galeria permanente, a décima oitava do Instituto, será dedicada ao pintor norte-americano Carroll Dunham. A galeria irá abrigar um ciclo de pinturas chamado Garden (2008), composto por cinco telas que refletem as impressões do artista sobre o Inhotim.

carroll
Uma das telas do ciclo de pinturas “Garden” (2008), de Carroll Dunham. Cortesia Gladstone Gallery, Nova York e Bruxelas. Foto: David Regen

A Galeria Lago, um dos quatro espaços do Inhotim para exposições temporárias, receberá trabalhos de três artistas. A romena Geta Br?tescu, considerada uma espécie de Louise Bourgeois do Leste Europeu, ganha uma grande mostra individual de sua produção, com trabalhos que datam de 1986 a 2013, intitulada O jardim e outros mitos.

geta
“Medea Hypostases III” (1980), de Geta Bratescu. Cortesia da artista e Ivan Gallery, Romênia. Foto: Stefan Sava

Dominik Lang, da República Tcheca, apresenta Sleeping City (2011), uma instalação composta por esculturas de bronze criadas pelo pai do artista. Em meio a estruturas de ferro e madeira, as peças adquirem novos significados.

Domink
“Sleeping City” (2011), de Dominik Lang. Foto: Ondrej Polak

Já do filipino David Medalla, será apresentada a obra Cloud-Gates (1965/2013) da série Bubble Machines – esculturas cinéticas formadas por espuma e criadas pelo artista pela primeira vez na década de 1960.

medalla
“Cloud-Gates Bubble Machine” (1963-2013), de David Medalla. Cortesia Baró Galeria. Foto: divulgação

Para comemorar a inauguração dos novos projetos, os músicos Jards Macalé e Jorge Mautner sobem ao palco do Inhotim em Cena para uma apresentação especial. Parceiros musicais e amigos de longa data, os dois artistas relembram sucessos da música popular brasileira e prometem surpresas. O show começa às 15h, próximo ao Magic Square.

Leitura 5 min

Respire e divirta-se!

A proposta era passar uma manhã no Bronx, bairro nova-iorquino, conversando com o artista norte-americano John Ahearn. Logo na entrada de seu ateliê, sentimos que a energia era outra. Entre pedidos de desculpas por não lembrar mais das palavras-chave para se comunicar em português, John nos recebeu com uma explosão de energia. Imediatamente os planos mudaram. De repente, estávamos nos preparando para fazer o molde de “três… Não, melhor, quatro jovens!”. Há nove anos, ele e o também artista Rigoberto Torres estiveram em Brumadinho realizando o mesmo procedimento para compor duas obras expostas na Galeria Praça, no Inhotim: Rodoviária de Brumadinho (2005) e Abre a porta (2006).

 

Os jovens do Laboratório Inhotim se movimentavam livremente pelo ateliê do artista. Já John, junto com seu assistente, começou a preparar os materiais para as esculturas e a mover móveis pelo espaço. Ele montava a cena, mudava, completava, direcionava, pensava, repensava, ajeitava. “Quase como um diretor de cinema…”, brincou um dos jovens. Estávamos, sim, em uma composição artística dele, mesmo sem termos começado o processo de escultura pelo qual Ahearn é tão reconhecido.

 

Há quase 10 anos, convivi com John Ahearn no Inhotim, na casa azul que serviu de ateliê na época, na praça da rodoviária, em Brumadinho, nas ruas de Sapé, uma das comunidades quilombolas da região. Ele registrou e vivenciou manifestações culturais, religiosas e do cotidiano do município.  Essas experiências, depois, passaram a compor as duas obras do acervo do Instituto. Cada uma das pessoas nos painéis é uma história, que conta da vida na cidade, da cultura local, mas que também narra o poder dos encontros e diálogos. No reencontro com ele, agora no Bronx, lembrei-me da força humana fenomenal que sua obra tem.

 

“Onde estão os canudos para fazer os moldes? Eles sempre somem na hora de começar o processo… Tudo bem, vai dar certo”, afirmava John. E, de fato, tudo deu certo. Os jovens observaram e participaram do processo criativo e técnico do artista, conhecendo detalhes, observando decisões, pensando soluções.

John Ahearn prepara os jovens para fazer os moldes. Foto: Alice Dias
John Ahearn prepara os jovens para fazer os moldes. Foto: Alice Dias

Mas, afinal, tendo em mente o objetivo da viagem desses jovens – pesquisar e se inspirar para produzir um Festival de Rua em Brumadinho – o que o trabalho de um artista em seu ateliê pôde ensinar? Talvez, a resposta seja: todo processo demanda um esforço. Decidir é transformar, e o poder de transformação é uma das ferramentas do artista. Produzir algo faz uma diferença no mundo. “Não é emocionante? Estamos criando quatro esculturas, ou seja, quatro coisas que não existiam antes!”, disse John, no meio do processo. Para ele, a resposta poderia ser ainda mais simples: “Peço duas coisas de vocês hoje: primeiro, respirem. Segundo, divirtam-se!”.

O resultado da visita ao ateliê do artista, uma experiência que será lembrada para sempre. Foto: Maria Eugênia Salcedo Repolês
O resultado da visita ao ateliê do artista, uma experiência que será lembrada para sempre. Foto: Maria Eugênia Salcedo Repolês

Para saber mais sobre nossa viagem, clique aqui. O Laboratório Inhotim conta com o patrocínio do Banco Itaú.

Leitura 2 min

Dança contemporânea pelos jardins

Redação Inhotim

Em 2013, a Cia. de Dança Palácio das Artes ocupou o Inhotim com a performance Se eu pudesse entrar na sua vida. A experiência foi tão bem-sucedida que, em 2014, o Inhotim renovou a parceria com a companhia, dessa vez para criar um trabalho que se relacionasse diretamente às coleções do Instituto. Assim surgiu Gestos Ordinários | Coleção CDPA, a primeira coreografia comissionada pelo Inhotim, que será apresentada nos dias 15, 16 e 17 de agosto, às 14h30, pelos jardins do parque.

 

Um ponto fundamental do trabalho de criação da intervenção foi pensar se era possível construir uma coreografia a partir de movimentos que as pessoas fazem em seu cotidiano, como sentar, beijar ou abraçar. “Uma ação, como levantar os braços, se feita de formas diferentes, não é a mesma ação”, reflete a coreógrafa Dani Lima, diretora do projeto, em uma colaboração com a Cia. de Dança Palácio das Artes. O resultado das investigações do grupo é um inventário de gestos que dialoga com ideias presentes em todos os museus, como o colecionismo, a catalogação e a memória, e poderá ser levado para outros espaços além do Inhotim.

 

Ficou com vontade de assistir Gestos Ordinários | Coleção CDPA? Então compre já seu ingresso para o Inhotim aqui. O espetáculo é gratuito para os visitantes e faz parte da programação do Inhotim em Cena 2014.

 

O Inhotim em Cena tem apresentação da Pirelli, patrocínio dos Correios e apoio da Saritur.

Leitura 3 min

Dias que parecem não passar

Julio Le Parc

Inhotim até logo

Inhotim o de antes de conhecê-lo

lá ficou

atrás

naquelas informações fragmentadas

e

naquelas imagens de

ilustrações em cores

 

O outro Inhotim

o vivido em cinco dias

está aqui em mim

com sua força tranquila

com a presença

dos seus dias

que parecem não passar

e ficam gravados.

 

Conjugação

natureza-arte

arte-natureza

 

Mas a gente

não se engana

essa

natureza é arte

 

Com que sabedoria se conseguiu fazer

que aquela arte ali

não fosse fagocitada

por aqueles verdes múltiplos

aspirando o céu.

 

E as ressonâncias

dessa soberba natureza

ao entrar nos pavilhões

tem um eco naquilo vivido neles

transportando-se

em um novo eco para fora.

 

E esse ir e vir vai tecendo um

laço harmonioso

criando um estado mágico

que parece fora do mundo

mas com a realidade no fundo.

 

Natureza-arte-púlico

público agente vinculador

e

nós somos esse público

menino, jovem, maduro

destinatário único

recriando um mundo

 

E nesse caminhar por Inhotim

transmite uma alegria de vida

que vem da relação ativa com o que

está recebendo.

 

Lentamente

com gula

a gente vira

cidadão do Inhotim

cidadão incondicional

 

Tantas coisas vividas com um

espírito calmo mas de maneira

acelerada em que os detalhes

se telescopeiam

se metamorfoseiam

e passam

e passam de novo na gente

trazendo sensações pequenas

intensas

que reconstituem

um todo em movimento

sem ser percebido em sua totalidade

aquilo vivido

nos faz sentir que um todo está ali

que flutua na nossa frente

que se fixa na gente

com aquilo visto pelos nossos olhos

com aquilo descoberto pelos nossos pés

com o esforço alegre de amanhecer

em alta velocidade

múltiplas facetas do todo.

 

Ordenações dentro dos pavilhões

ordenações naquilo iluminado pelo sol.

 

Sem nenhuma dúvida ordenação

de uma vontade com uma

sensibilidade à flor da pele

em uma mente única

e isso se chama:

criação!

 

Inhotim é uma criação inventada

produto de uma

capacidade visionária única

que trabalha aquilo que se chama

utopia

com aquilo que cresce a partir do chão

e esse criador tem um nome e um sobrenome:

Bernardo

Honrado por poder contribuir

com meu grãozinho de areia nessa criação!

 

 

Cachan, França

Junho, 2014

Leitura 6 min

Crescendo com o Inhotim

Elton Damasceno da Silva

Relatar uma experiência marcante nesses meus oito anos de Inhotim não é uma tarefa simples, ainda mais tendo participado de tantos projetos grandiosos. Em De Lama Lâmina (2009), de Mathew Barney, confeccionei os moldes da árvore e de algumas ferramentas que estão presas à escultura. Em Celacanto Provoca Maremoto (2004-2008), da Adriana Varejão, participei desde o preparo das telas até a instalação das mesmas na galeria. O Sonic Pavilion (2009), de Doug Aitken, deu muito trabalho quando tivemos que subir e descer mais de 200 metros de cabos. Na medida em que os testes de áudio eram realizados, todos ficavam espantados com os sons que existem em certas profundidades da Terra.

 

O Beehive Bunker (2006), de Chris Burden, colocou minha força física to the test, pois toda a obra foi feita manualmente, até mesmo a tampa de bueiro que fica em seu topo foi colocada por nós, da equipe de produção. O Beam Drop (2008), também de Burden, transmitiu-me uma leveza e, ao mesmo tempo, uma brutalidade em sua confecção, que até hoje me emociono ao ver a performance da montagem. Restore Now (2006), de Thomas Hirschhorn, me colocou em contato com o grande acervo literário que compõe a obra e forçou-me a desenvolver minhas funções com um olho no trabalho e outro nos livros! Pude ler excelentes obras, como A historia da sexualidade vol.1, de Michel Foucault, Responsabilidade e julgamento, de Hanna Arendt e Ecce Humo, de Friedrich Nietzsche, sem contar vários outros títulos que estão em minha lista para um futuro próximo.

 

Tenho um enorme carinho por todos os trabalhos que montei no Instituto, mas os de John Ahearn e Rigoberto Torres, os painéis Rodoviária de Brumadinho (2005) e Abre a porta (2006), são de uma importância indizível para mim, pois comecei a desenvolver um deles antes mesmo de conhecer o Inhotim. Eu trabalhava em um ateliê de arte em Belo Horizonte e meu primeiro contato com os artistas aconteceu lá.

 

Depois de algumas negociações entre o estúdio e o Inhotim, Lucas, meu atual gestor, acompanhado pelos artistas, levou dois fragmentos do ônibus para que confeccionássemos os moldes. Quando me viu, John disse que confiava em mim e sabia que eu iria fazer um bom trabalho. Fiquei muito empolgado e o resultado foi a satisfação coletiva. Em seguida, nos foi dada a tarefa de moldar um ÔNIBUS! Fiquei muito surpreso, nunca havia feito algo tão grande assim, mas aceitei o desafio e realizei um bom trabalho. Depois disso, tornei-me o mold maker oficial, que desenvolveria os trabalhos para John e Rigoberto. Depois de terminarmos o primeiro painel, Rodoviária de Brumadinho, Lucas me convidou para trabalhar no Inhotim, mas, dessa vez, como um membro oficial da equipe. Iniciava-se, então, essa duradoura parceria.

 

"Rodoviária de Brumadinho" (2005) retrata a vida dos moradores da região e seus costumes. Foto: Eduardo Eckenfels
“Rodoviária de Brumadinho” (2005) retrata a vida dos moradores da região e seus costumes. Foto: Eduardo Eckenfels

Logo quando cheguei ao Instituto, pude perceber claramente a necessidade de se falar um segundo idioma. A quantidade de estrangeiros que orbitavam e orbitam por aqui é incomensurável. Assim, já no meu primeiro mês comecei a comprar fascículos semanais da Revista Época, que vinham com um livro e um DVD que ensinavam inglês. Também adquiri um dicionário de espanhol. À noite, estudava e, durante o dia, colocava em prática o que ia aprendendo. Ao ver meu empenho com os estudos, John, no final do expediente, reservava um tempo para praticarmos algumas palavras que seriam úteis em nosso dia a dia. Um ano depois eu já estava dominando o inglês, o que certamente corroborou para meu crescimento na equipe.

 

Desde então, venho aprimorando minha mão de obra. Estou no quinto período do curso de Historia e, no próximo ano, farei uma pós-graduação em Arte Contemporânea, Restauro ou Filosofia. No Inhotim, sou movido pelas possibilidades e perspectivas de futuro, que, para ser sincero, não são poucas.