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Da montagem à inauguração

Bárbara Tavares

Meu primeiro contato com as obras inauguradas em 2014 foi no escritório do Inhotim em Belo Horizonte. Em fevereiro, eu e a equipe da curadoria começamos a elaborar os dossiês sobre os artistas, que utilizaríamos para consulta interna. Saber um pouco da história e da trajetória de cada um me deixou curiosa e tornou a experiência de agosto e setembro – quando iniciamos as montagens nas galerias – muito mais interessante.

 

O trabalho de Dominik Lang foi a primeira surpresa: estava guardado em caixas, ocupando um grande espaço da sala branca que antes estava vazia. Começamos limpando, organizando a sala e desembalando as esculturas. Depois, desceu o trabalho do David Medalla, que me surpreendeu quando entrei na galeria e o encontrei no chão, ainda desmontado. A obra é muito maior do que havia imaginado ao ver as fotos. Então, os quadros do Carroll Dunham, que de pequenas figuras nas páginas do dossiê, se transformaram em telas que ocupavam quase uma parede inteira.

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A antiga casa de fazenda foi restaurada para receber as telas de Carroll Dunham. Foto: Rossana Magri

Foram alguns dias entre deixar a sala dedicada à artista Geta Bratescu apenas com algumas marcações e encontrá-la com quase todos os trabalhos no lugar. Já era a semana da inauguração e o trabalho do Dominik tomava, a cada hora, a forma da obra que seria no fim. Medalla estava praticamente montado, seguiam os testes com os materiais utilizados para as espumas e a galeria com as obras de Carroll estava nos detalhes finais.

Foto 2
A máquina de bolhas de David Medalla surpeendeu pelas grandes dimensões. Foto: Rossana Magri

Mas faltavam ainda muitos ajustes na Galeria Lago: instalação das vitrines e cartazes, nivelamento das obras nas paredes, ajustes de iluminação e montagem de cada detalhe do trabalho do Dominik fizeram com que perdêssemos a noção das horas.

Curadoria e área técnica instalam as obras de Geta Bratescu na Galeria Lago. Foto: Rossana Magri
Curadoria e área técnica instalam as obras de Geta Bratescu na Galeria Lago. Foto: Rossana Magri
Dominik Lang e Elton Damasceno discutem detalhes da montagem. Foto: Rossana Magri
Dominik Lang e Elton Damasceno discutem detalhes da montagem. Foto: Rossana Magri

Meu último dia nas montagens acabou mais cedo e já era a véspera da inauguração. Em 04 de setembro, dia da abertura, as obras pareciam ter vida com a presença do público. Tudo parecia muito diferente do dia anterior e a sensação de ter contribuído para que a exposição funcionasse foi muito boa.

Foto 4
Tudo pronto: o público visita pela primeira vez as exposições da Galeria Lago. Foto: Rossana Magri

 

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O jardim e outros mitos

Equipe de mediadores

Desde o início de setembro, o Inhotim apresenta a mostra individual O jardim e outros mitos, da romena Geta Br?tescu. Ocupando parte da Galeria Lago, a exposição reúne trabalhos produzidos a partir da década de 1960 até 2012, e apresentam um amplo espectro da produção da artista e suas percepções sobre a condição feminina e o fazer artístico.

 

Atualmente com 88 anos, Geta Br?tescu estudou na Faculdade de Letras e no Instituto de Belas Artes de Bucareste. Assim como em outras ditaduras do Leste Europeu, a cena artística romena ficou dividida entre a “arte oficial”, cujo objetivo era a propaganda do Estado, e as produções que surgiam fora das instituições públicas, de forma marginalizada. Foi nesse contexto que Br?tescu produziu durante três décadas e atuou como ilustradora do jornal cultural Secolul 20. Alguns trabalhos feitos para a publicação podem, inclusive, ser vistos na mostra.

 

Nuduri
Desenhos de carvão e nanquim sobre papel da série “Nuduri” (1975), parte da exposição “O jardim e outros mitos”.

Colagens, litografias, ilustrações de livros, fotografias, gravuras, tapeçarias, filmes experimentais e vídeo-performances estão entre os suportes utilizados por ela. No Inhotim, alguns de seus trabalhos trazem referências da antiguidade clássica e da mitologia grega. É o caso da série Medea, representação da personagem mítica que trai a família para viver com seu grande amor, Jasão. Ao descobrir-se trocada por outra mulher, Medeia tira a vida de seus próprios filhos como forma de vingança.

 

Como outros artistas, Br?tescu visitou áreas industriais do país e lançou mão desse contexto como fonte de inspiração para sua produção. A forma circular das caldeiras, dos medidores de pressão, das rodas dos trens de ferro pode ser observada em várias obras, como Circles (2012). Seria o círculo um princípio metafórico? O regime comunista da Romênia poderia ter seus momentos de ascensão e queda narrados por meio da figura do círculo? Essas são apenas algumas reflexões que emergem do trabalho da artista. Não deixe de conferir!

 

 

Magno Silva, educador de arte do Instituto Inhotim

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Beleza cotidiana

Rosalba Lopes

 

Até 28 de setembro, próximo domingo, o Inhotim participa da Primavera de Museus, evento nacional promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), que, em 2014, traz o tema Museus Criativos. Entre as atrações da programação do Instituto, está a exposição Beleza Cotidiana, uma proposta de apresentar a relação que os brumadinenses estabelecem com o belo, convidando à reflexão sobre a sensibilidade humana e suas múltiplas manifestações.

 

Os laços afetivos e a vida cotidiana também são temas acessados pelas imagens que o fotógrafo Marcelo Coelho produziu com maestria, ao enquadrar as orquídeas cultivadas nas casas dos moradores do município. Nas narrativas que compõem a exposição, é possível perceber um pouco da subjetividade dos cidadãos deste município, cuja riqueza cultural se expressa no senso artístico de seus músicos, na religiosidade e ritmos marcantes das Guardas de Congado e Moçambique. Enfim, na manutenção de rituais que ainda fazem ver a herança rural sobrevivente nessa sociedade em rápida transição para os padrões urbanos que marcam o modo de vida contemporâneo.

 

Nas flores e frases, morte, memória, vida, celebração e a importância do cuidar se revelam em uma explosão de beleza, harmonicamente apresentada em projeto expográfico de Esther Mourão (Ticha). Temas e flores que também surgem do trabalho delicado das artesãs do Médio Vale do Paraopeba que, com seu fazer, descortinam uma primavera construída por mãos humanas, conforme se vê nos arranjos florais que compõem a exposição.

 

Beleza Cotidiana resulta, ainda, de um persistente trabalho de pesquisa realizado em Inhotim, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o território e, assim, propor ações que valorizem a identidade local. Somente no âmbito desse conjunto de pesquisas seria possível a escuta que nos coloca frente a interrogações como a de Ângela Magela, cultivadora de orquídeas em Brumadinho, ao questionar: “A beleza é insofismável, não é?”.

 

Convidamos você a mergulhar neste universo de beleza e sensibilidade.

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Hélio Oiticica nas telonas de BH

Redação Inhotim

 

Nesta quinta-feira, 25/09, estreia em Belo Horizonte o documentário Hélio Oiticica, um mergulho na trajetória do carioca homônimo que uniu reflexão à criação artística. Produzido em 2012 pela Guerrilha Filmes e dirigido por César Oiticica Filho, sobrinho de Hélio, o filme lança mão de um grande material de arquivo do artista e retrata a evolução de sua carreira e a efervescência cultural dos anos 1960.

 

Com a voz de Hélio Oiticica como fio narrativo, o documentário permite um mergulho em seu pensamento, trajetória e intimidade. A extensa pesquisa de imagens realizada para a produção faz com que o espectador acompanhe o desenvolvimento de Oiticica: seu início junto ao Grupo Frente; o surgimento do Neoconcretismo; a criação dos Bólides, Penetráveis, Núcleos e Parangolés; o envolvimento com a Tropicália; o período em Nova York; até a volta ao Brasil.

 

Antes de desembarcar na capital mineira, a produção passou por mais de 20 festivais internacionais e recebeu diversos prêmios, como o de melhor documentário no Festival do Rio, em 2012, o prêmio especial do júri no Festival de Filme e Livro de Arte 2013 (FILAF), em Perpignan, na França, e o Caligari, prêmio da crítica do Festival de Berlim de 2013, na Alemanha.

 

O lançamento do filme em Minas reflete a forte relação que Oiticica manteve com o estado. Em abril de 1970, participou, em colaboração com Lee Jaffe, da mostra e manifestação Do Corpo a Terra, realizada no Palácio das Artes e no Parque Municipal. Nesse evento histórico, estavam também Cildo Meireles, Carlos Vergara, Franz Weissman e Artur Barrio. Já no Instituto Inhotim, em Brumadinho/MG, Oiticica possui importantes obras em exposição, como as Cosmococas, cinco salas sensoriais criadas em parceria com o cineasta Neville d’Almeida.

 

Confira o trailer:

Hélio Oiticica – Trailer Oficial – HD from GUERRILHA FILMES on Vimeo.

 

Diretor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1968, Cesar Oiticica Filho iniciou seus estudos sobre imagem em um curso técnico de fotografia em Manaus. Em 2010, realizou o curta Invenção da Cor, em que Hélio Oiticica fala de seus projetos para espaços públicos, em particular do Magic Square, em exibição no Inhotim. Trabalha atualmente com multimeios. Há 15 anos é curador do Projeto Hélio Oiticica e, junto com Fernando Cocchiarale, da exposição Hélio Oiticica, Museu é o Mundo, que gerou um livro, do qual é organizador. Finalizou em 2012 o documentário Hélio Oiticica.

 

 

Serviço

Hélio Oiticica

Documentário | 95 min | Cor | Áudio Dolby | Brasil | 2012

Exibição: Cine 104 (Praça Ruy Barbosa 104 – Centro – Belo Horizonte/ MG), a partir de 16/10, às 17h e 20h40.

 

Ficha Técnica: Roteiro e Direção – Cesar Oiticica Filho. Pesquisa de Imagem – Antonio Venancio. Empresa produtora – Guerrilha Filmes. Produção Executiva – João Villela, Juliana Carapeba, Felipe Reinheimer e Cesar Oiticica Filho. Fotografia – Felipe Reinheimer. Figurino – Julia Ayres. Supervisão de Montagem – Ricardo Miranda. Montagem – Vinicius Nascimento. Música Original – Daniel Ayres e Bruno Buarque de Gusmão.

 

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Lenine + Sinfônica no Inhotim

Redação Inhotim

Com mais de 30 anos de carreira, Lenine não tem medo de arriscar. Em seus trabalhos, o cantor combina sonoridades, descobre referências, promove intercâmbios. No próximo sábado, 13/09, essa mistura toma conta do Inhotim. O artista sobe o palco do Inhotim em Cena ao lado da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais para apresentar outra versão de seu repertório. Em uma gostosa conversa com o Blog do Inhotim, Lenine falou da ansiedade para esse show inédito e contou que pretende lançar um novo CD no próximo ano, quem sabe até com referências da visita ao Instituto. Confira!

 

Blog do Inhotim – É a primeira vez que você se apresenta com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e no Inhotim. Como está sua expectativa?
Lenine – Já tive experiências com outras orquestras, como a Orchestre National d’Île-de-France, a Orquestra de Rouen, a Camerata Florianópolis, a Orquestra Jovem das Gerais… Estou muito feliz em tocar agora com eles e adaptar meu repertório para a palheta de sons da Sinfônica. Além disso, fico muito feliz por essa reunião acontecer no Inhotim. Nunca estive ai, mas já vi muitas matérias, ouvi diversas coisas boas de amigos que já foram e tenho uma expectativa muito grande. Vai ser um encontro carregado de emoção, espero retribuir a altura do cenário.

 

BI – Alguns de seus trabalhos, como Chão, têm sonoridades diversas, palmas, pássaros… Como foi fazer essa transposição para o instrumental?
L – Como já fiz outros projetos com orquestras, naturalmente, ao longo do tempo, fui experimentando meu repertório nesse ambiente e, assim, pincei essas canções que vamos tocar. A grande questão é que no Inhotim não é só música, ou arte visual, ou botânica, é toda essa atmosfera criativa e vai ser muito especial fazer minha música nesse ambiente.

 

BI – Você pode contar um pouquinho sobre o repertório escolhido?
L – Sabe como é, as canções são como filhos, os mais novos acabam sempre ganhando mais atenção. É o caso com o repertório de Chão, meu último CD. Mas nesse espetáculo, no Inhotim, também vou tocar minhas canções mais conhecidas. “Hoje eu quero sair só”, “Paciência” e “Jack Soul Brasileiro” estão garantidas!

 

BI – Por falar no Chão, ele é seu ultimo álbum, lançado em 2011. Você pretende lançar algo novo por agora?
L – Gosto dessa diversidade de formações que faço: com banda, sinfônica, câmara… São formas diferentes de apresentar o disco. Mas descobri, ao longo da vida, que o tempo de vida útil de um trabalho é de 2 anos e meio, 3 anos. Até o fim de 2014 tenho shows desse CD, mas já estou mergulhado em fazer um novo projeto. É assim: você mira em uma coisa e acerta outra, por isso, não sei dizer ainda como vai ser, mas quero lançar um disco novo no próximo ano.

 

BI – E no Inhotim, o que você pretende ver? A gente sabe que você é apaixonado por orquídeas e temos uma grande coleção delas…
Sou um orquidólatra (risos)! Quero ver o Vandário sim, e pretendo respirar um pouco desse espaço tão especial como um todo. E tenho essa coisa, gosto de arte e gosto desse diálogo entre as artes. Mesmo não sabendo em que dosagem, essas experiências me influenciam. Posso dizer que meu “anzol de captura” para compor é basicamente visual.

 

BI – Então pode surgir algo dessa visita?
L – Sempre surge. O material que você usa para criar vem da sua experiência, do que você vivencia. Talvez não fique tão explicito para o público, mas, quem concebe, sabe. Por isso, no Inhotim, quero estar atento a tudo!