Risco e poesia
A chegada das pinturas de Luiz Zerbini a Inhotim, coincidindo com a sala de Juan Araujo e com uma mostra em torno do gênero natureza-morta, evidencia o desejo de mostrar e falar de pintura. Desde a inauguração do pavilhão de Adriana Varejão, em 2008, a pintura não ocupava um lugar de tanto destaque em nossas exposições. Com suas composições intrincadas e referências culturais complexas, as obras figurativas de Zerbini poderiam ser consideradas o ponto focal de sua apresentação na Galeria Praça, reinventando a pintura narrativa penso na linhagem que vai da pintura religiosa renascentista à pintura histórica do século XIX brasileiro.
Sua relação com a natureza, entendida como construção do homem, ganha uma relevância especial em Inhotim, onde os limites entre o cultivado e o natural são sempre presentes. Em Mamão Manilha (2012), um mamoeiro resiste num canteiro de obras que inclui uma pintura de Hélio Oiticica. Em Mar do Japão (2010), o contrário: são vestígios humanos que subsistem numa paisagem marinha entrópica. Os quadros geométricos e as colagens-esculturas que completam a sala mostram a inquietude do artista nos últimos dez anos de sua produção. Ao mesmo tempo lenda e exceção entre os pintores brasileiros dos anos 1980, por sua pintura solar, tropical e exuberante, Zerbini acumula 30 anos de arte mostrando que sem risco não há poesia.