Pular para o conteúdo
Leitura 3 min

Tunga (1952-2016) – In memoriam

Marta Mestre

A história do Inhotim está intrinsecamente ligada à obra e pensamento de Tunga. Contá-la é evocar, no passado, presente e futuro, o nome deste artista maior que funda uma obra sem categorias, sem gavetas, e nem principio, meio ou fim.

Essa ideia de puzzle infinito, que se desdobra dentro de si próprio, e se expande no tempo, foi intensamente explorada nas galerias que Tunga concebeu para o Inhotim: “True Rouge”, inaugurada em 2002, e a Galeria Psicoativa, em 2012.

Ambas formam o maior conjunto de obras de Tunga permanentemente exposto no Brasil e no exterior, com trabalhos desde o início da década de 80 até aos anos 2000, e expressam o compromisso do Inhotim em pesquisar, divulgar e preservar a sua obra e pensamento, iguais a ele e ao seu discurso. Livre, contraditório, eloquente, transgressor, visionário, poético, solar, soturno, e pleno de humanidade. Um universo de partículas em aceleração, de elementos, como ele dizia, soltos e “bagunçados”, que continuarão a desafiar os significados e significantes habituais.

Talvez seja essa a grande experiência que nos deixa. Que o espanto é a condição para inventarmos um mundo novo, não necessariamente melhor ou mais acolhedor, mas potencialmente inscrito na nossa imaginação. E que é hora de abandonarmos o lugar de espetador e de lançarmo-nos na ambiguidade, contradição e finais incompletos que fazem da poética de Tunga uma verdadeira ética de vida.

Certos que jamais poderemos “domar” a densa materialidade e substância do espírito de Tunga, e que foi um enorme privilégio termos participado das suas mais altas aventuras, cabe-nos agora manter vivo o seu legado. Temos muito trabalho pela frente, e uma só maneira de encara-lo: apaixonada e intensamente, como Tunga nos ensinou.

O Instituto Inhotim expressa as suas sinceras condolências a todos os familiares, amigos e colaboradores de Tunga.