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Viagem ao centro da Terra

Jorge Mautner

Antes de chegarmos ao Inhotim, já estávamos deslumbrados pela paisagem de tanta beleza que nos cercava. Deu até tempo de falar da magnífica história da insurreição de Minas Gerais e, meu entusiasmo era tanto, que repeti várias vezes o fato de o ouro e a prata de Minas Gerais terem financiado e feito toda a industrialização da Europa.

De repente, chegamos a um hotel maravilhoso e, no dia seguinte, fomos conhecer o lugar onde tocaríamos eu, Bem Gil e Jards Macalé. Eis que entramos no jardim do paraíso do século 21! Estávamos no Inhotim. Fomos recebidos pelo Antonio Grassi, diretor executivo do Instituto, e lá estava também Adriana Rattes, na época secretária de cultura do estado do Rio de Janeiro.

Passamos o som enquanto ficávamos olhando aquela deslumbrante mistura entre a paisagem humana e a paisagem de plantas, árvores, flores, lagos, pássaros, irmanando-se com as várias arquiteturas daquele imenso lugar, que leva para ser visitado em quase a sua total extensão, no mínimo, três dias de intenso programa de passeios a lugares que, uma vez conhecidos, ficam para sempre na memória do coração.

Isso sem falar nos inúmeros lugares onde há surpresas, como os imensos pavilhões que registram a obra de geniais artistas plásticos, pintores, fotógrafos, escultores e coisas de extraordinário valor artístico, inspirando e se integrando com as artes da natureza esplêndida desse imenso parque, monumento, lugar sublime, lugar de iluminações da alma, onde a poesia jorra por todos os lados, se entrelaçada a todas essas belezas, inclusive com a beleza do profissionalismo dos funcionários e a beleza da doçura e do carinho com que tratam os visitantes.

Mas o lugar que mais nos impressionou, entre todas essas maravilhas de impacto atômico em nossos neurônios, foi aquela imensa cúpula que, quando adentramos nela, estávamos num lugar extraordinário, pois, ali, a ciência se enlaça com a arte e a música de todos os mistérios: é que quem lá entra, ouve o som que existe no fundo da Terra. Mas não é apenas um som: são sinfonias, melodias, urros, gritos, ondas sonoras, é a voz e as vozes das entranhas do planeta. Era a obra Sonic Pavilion (2008), do artista Doug Aitken. Ficamos lá mais de uma hora atônitos, transfigurados, ouvindo aquela sinfonia infinita que, a cada instante, ora urrava, ora sussurrava, junto a melodias de todas as dimensões, mostrando, em tom absoluto, a vida, as vidas, os movimentos ininterruptos dos interiores, dos intestinos e das vísceras de nosso planeta, urrando, chorando, rindo, cantando, entoando mistérios de belezas do ventre da mãe Terra, de todo o universo, e desse parque onde mora o Deus desconhecido!

"Sonic Pavilion", 2008, de Doug Aitken. Foto: Pedro Motta
“Sonic Pavilion”, 2008, de Doug Aitken. Foto: Pedro Motta

Eu estava tão impactado por essa visita que dava vontade de chorar de emoção e de rir de felicidade ao mesmo tempo, e parabenizei o criador desse projeto, Bernardo Paz, por essa obra prima da humanidade, do Brasil, e de todos nós que tivemos a graça divina de conhecê-lo. É um lugar de meditações profundas e de revelações misteriosas. E, olhando a paisagem de verde-esmeralda das plantas e das árvores, durante o passeio por trilhas, eu via em relâmpagos de segundos a imagem de Tupã Deus do Brasil fulgurando.