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Um dia como outro qualquer

Inês Grosso

Um dia como outro qualquer (2008) da artista Rivane Neuenschwander, consiste em 24 relógios cujos painéis numéricos, correspondentes à marcação das horas e minutos, foram substituídos por zeros. Instalados no espaço expositivo ou em locais de passagem, como corredores, balcões de atendimento, bibliotecas e cafeterias, e valendo-se da relação entre função e valor simbólico, a obra proporciona um encontro inesperado com o público – onde este esperaria encontrar um relógio em funcionamento, acha, pelo contrário, uma versão atual e intencionalmente modificada dos clássicos flip-clocks, que, neste caso, registram apenas zero hora e zero minutos.

 

O dia começa à zero hora e termina à meia-noite. Zero hora marca o início de um novo dia e meia-noite o final. Neuenschwander remete-nos para um tempo hipnótico e ilusoriamente suspenso, para aquele intervalo entre um dia e outro, entre o final de um dia e o começo do seguinte, que será sempre um dia como outro qualquer. De fato, o relógio rege os nossos dias: temos horas para levantar, chegar ao trabalho, almoçar, jantar, dormir, etc. Somos escravos do tempo. De um tempo que não espera. Especialmente numa metrópole como São Paulo, onde vivemos sempre atrasados e dependentes do relógio para não perder a hora, Neuenschwander desafia-nos a refletir sobre a dimensão do tempo no mundo contemporâneo.

 

A artista remete-nos para  aquele intervalo entre um dia e outro, que será sempre um dia como outro qualquer.
A artista remete-nos para aquele intervalo entre um dia e outro, que será sempre um dia como outro qualquer.

A apropriação de objetos comuns, utilitários ou decorativos, e sua introdução poética no cotidiano da cidade, aproxima sua prática do exercício de revisão do estatuto do objeto artístico.  Isto teve início em meados dos anos de 1960, quando os artistas experimentavam formas alternativas de circulação da obra de arte e sua inserção no mundo real.

 

A obra integra a exposição Do Objeto para o Mundo , em exibição no Itaú Cultural até 31 de maio. Os 24 relógios foram espalhados pela sede do Itaú Cultural e por diferentes espaços da cidade, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM, o Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo – MASP e o Centro de Memória Itaú Cultural/Espaço Memória.

A obra integra a exposição Do objeto para o Mundo - Coleção Inhotim, em SP.
A obra integra a exposição Do objeto para o Mundo – Coleção Inhotim, em SP.