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Os contrastes do tempo

Equipe de mediadores

Quanto dura o tempo de um convite, de uma proposta? Durante o mês de maio, as visitas mediadas de arte do Inhotim evidenciam a natureza-morta e sua relação com o tempo. A observação de que ele é condição necessária para a existência da vida motivou diferentes artistas a arriscar a possibilidade de pará-lo. Eles tentam capturar o instante ou mesmo fazê-lo passar como uma cena em câmera lenta, em que é possível acompanhar com detalhes a transformação de algo novo, a partir daquilo que existiu e já não é mais.

 

Um dos vídeos que compõe a exposição Natureza-Morta, na Galeria Fonte, é 10:51 (2009), do artista argentino Jorge Macchi.  No trabalho, a projeção de um relógio localizada à altura do encontro da parede com o teto nos provoca a observar como a experiência com espaço condiciona e é condicionada por nossa relação com a passagem do tempo. Já parou para pensar em como você se organiza e é controlado a partir do relógio na parede de casa, na rua, no trabalho ou preso ao pulso?

 

Outra obra que estabelece um profundo diálogo com a ideia de tempo em (de)composição é Ahora juguemos a desaparecer II (2002), do cubano Carlos Garaicoa. Ali, a vídeo-instalação demonstra um experimento em processo, quando arquiteturas são postas em chamas e deflagram uma série de discussões possíveis, desde a emergência de novas ordens sociais ao padecimento de culturas seculares. Muitas vezes a condição social de diferentes épocas e culturas constrói percepções singulares do tempo, por meio da observação da natureza ou pela materialização através de artefatos, do relógio de sol à obra de arte, por exemplo. 

Detalhe da obra "Ahora juguemos a desaparecer II" (2002), do artista Carlos Garaicoa. Foto: Daniela Paoliello
Detalhe da obra “Ahora juguemos a desaparecer II” (2002), do artista Carlos Garaicoa. Foto: Daniela Paoliello

O que significa estar no tempo, a ele pertencer?

 

Texto de Alison Loureiro, arte-educador do Inhotim

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Aproximação da arte com a vida

Equipe de mediadores

Durante o mês de abril, as visitas mediadas de arte do Inhotim abordam a natureza-morta e sua relação com o tempo e o espaço. Por meio desse gênero da história da arte, é possível levantar questões sobre os objetos do nosso cotidiano, a forma como olhamos para eles e o que os transforma em obras de arte.

 

Uma das séries fotográficas que compõe a exposição Natureza-Morta, na Galeria Fonte, do Inhotim, é Como aprender o que acontece na normalidade das coisas (2002-2005), da espanhola Sara Ramo. Nesse conjunto, a artista apresenta uma sequência de banheiros domésticos, ora organizados, ora repletos de utensílios e produtos de higiene pessoal. Ao expor esses ambientes particulares ela os torna públicos, trazendo à tona possibilidades misteriosas sobre tudo que acontece nesses locais tão íntimos.

 

Imagens da série "Como aprender o que acontece na normalidade das coisas", da artista Sara Ramo
Imagens da série “Como aprender o que acontece na normalidade das coisas” (2002-2005), da artista Sara Ramo

 

O contraste entre o tempo estático da fotografia e a transformação do ambiente retratado pode ser relacionado ao cotidiano. Ao utilizamos o banheiro, também o modificamos. Será essa uma proposta de apreender e alterar a normalidade do dia a dia, assim como nosso olhar sobre ele? A composição do banheiro, assim como a escolha e posição dos objetos nas obras, nos permite observar os trabalhos não mais como fotografias, mas como uma espécie de momento escultórico.

 

Múltiplas, as obras de Sara Ramo permitem diversas interpretações, o que coloca a artista como representante dessa arte contemporânea que transforma o conceito dado à arte desde o Iluminismo e a aproxima da vida, seja pelos materiais que utiliza ou pelas questões que suscita.

 

Como lidamos com o nosso cotidiano? Somos capazes de pensar os objetos utilitários de outra maneira, que não por meio de sua funcionalidade primária?

 

 

Texto de Daniela de Avelar Vaz Rodrigues, mediadora de arte do Inhotim

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Jardim de Todos os Sentidos

Equipe de mediadores

Visão, audição, paladar, tato e olfato. São com esses cinco sentidos que nos relacionamos com o mundo e experimentamos o que há ao nosso redor. Pensando em uma forma de explorar essas capacidades, o Inhotim criou o Jardim de Todos os Sentidos. Localizado no Viveiro Educador, é um espaço de construção do conhecimento por meio da prática e da troca de informações entre o visitante e a equipe de educação ambiental do Instituto.

 

O projeto contempla três canteiros em forma de mandala, dedicados, cada um, a plantas aromáticas, medicinais e de efeitos tóxicos. Nesse espaço, o visitante é convidado a interagir com as espécies e tocá-las, observar suas peculiaridades e até prová-las.

 

Entre as mais curiosas estão a stévia (Stevia rebaudiana), da qual é feita um tipo de adoçante natural, e a camomila branca (Matricaria recutita), que tem propriedades calmantes e anestésicas. Durante as visitas mediadas, estimulamos o público a provar suas folhas, capazes de causar dormência na língua.

 

Quem visita o jardim também descobre diferentes utilidades dos exemplares em exposição e pode relacioná-las a práticas que vêm sendo perdidas com o passar do tempo, como o cultivo de espécies medicinais ou a produção de hortas no quintal das casas. É, ainda, uma oportunidade de valorizar os ensinamentos e tradições passados por nossos avós.

 

Inaugurado em junho de 2011, na Semana do Meio Ambiente, o espaço vem se tornando cada vez mais importante para popularização da ciência. As atividades e ações educativas lá desenvolvidas tem papel fundamental para a sensibilização ambiental e a conservação da biodiversidade.

 

O Jardim de Todos os Sentidos foi realizado por meio de uma parceria entre a equipe de educação ambiental, o programa Amigos do Inhotim e instituições especializadas em pessoas com deficiência visual.

 

Texto de Diego Pimenta, mediador ambiental do Inhotim

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Construindo espaços

Equipe de mediadores

Pensar a relação que a arte tem com o céu é uma tarefa relativamente fácil no Inhotim, famoso por apresentar parte de seu acervo ao ar livre. A disposição das galerias pelo parque e os caminhos construídos para se chegar até elas estimulam novos fluxos e discussões sobre o encontro entre a arte contemporânea e o jardim botânico.

 

A visita temática Construindo Espaços: o museu e o céu propõe uma discussão acerca desse ambiente de encontros e oferece outros olhares sobre as obras externas em exposição. Se a interação entre arte e natureza cria um novo espaço, criam-se também novos posicionamentos, livres de limites e abertos ao desconhecido.

 

Na vastidão de possibilidades do Inhotim, podemos encontrar obras e artistas questionadores desse equilíbrio entre significações e experiências. Waltércio Caldas, com sua Escultura para todos os materiais não transparentes (1985), força o olhar a “olhar de novo”. A escultura aparentemente incompleta estimula a pensar justamente os vazios, os silêncios e o ritmo. 

Waltercio-Caldas
Waltércio Caldas, Escultura para todos os materiais não transparentes, 1985.

 

Vegetation Room Inhotim (2010), da espanhola Cristina Iglesias, propõe um jogo óptico entre imagens refletidas em um espelho e a paisagem do lugar. Concebida especificamente para uma clareira na mata do parque, a obra consiste em uma estrutura espelhada imersa na natureza, promovendo encontros sensoriais. 

   

Esses artistas escolheram incorporar o espaço em que seus trabalhos estão inseridos como elementos de sua própria existência e, assim, tecer relações com o corpo de quem os olha. A significação que damos a elas acontece desse encontro, mas as provocações tendem a se diferenciar a cada espaço, a cada dia, a depender do tempo, do humor, do cansaço do corpo, do estupor da mente.

 

Convido a todos a lançar novos olhares para os espaços do Inhotim e perceber aquilo que considero o verdadeiro papel da arte: criar movimento.

 

Texto de Marília Balzani, mediadora de Arte e Educação do Inhotim

 

Ficou com vontade de participar da visita temática Construindo espaços: O museu e o céu? Então clique aqui e fique por dentro dos dias e horários em que atividade acontece.

 

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Simplesmente Marepe

Equipe de mediadores

Marcos Reis Peixoto, ou simplesmente Marepe, nasceu em Santo Antônio de Jesus, uma cidadezinha no Recôncavo Baiano. Seus trabalhos presentes no Inhotim se relacionam com a identidade cultural nordestina e a simplicidade de seu local de origem, mas vão muito além. Mais que enfatizar as dramaticidades dos problemas sociais e talvez da seca, Marepe potencializa discussões acerca dos próprios estigmas criados para o nordeste.

Obra "A Bica" (1999), de Marepe
Obra “A Bica” (1999), de Marepe

A Bica (1999), Cabra (2007) e Olê ô picolê (2007), os três trabalhos do artista atualmente em exposição no Inhotim, oferecem ao público uma experiência do cotidiano enobrecida de significações, comum em sua produção. Marepe faz uso recorrente de materiais não-nobres, como papelão, borracha, latas de cerveja e outros objetos do dia a dia, construindo matéria a partir de ideias, de uma forma que ele gosta de chamar de intuitiva, ainda que repleta de influências.

Obra "Olê ô picolê" (2007), de Marepe
Obra “Olê ô picolê” (2007), de Marepe

Ao reutilizar produtos que, retirados de seu contexto, ganham novas significações, Marepe é recorrentemente associado ao artista francês Marcel Duchamp, ligado ao Dadaísmo, movimento da vanguarda modernista surgido no início do século 20. A arte conceitual, quando decomposta e desdobrada em filosofia, informação, linguística, matemática, autobiografia, crítica social, deixou um legado na história da arte, do qual o artista lança mão para criar um trabalho que traduza suas ideias, vivências e memórias.

Obra "Cabra" (2007), de Marepe
Obra “Cabra” (2007), de Marepe

Seus trabalhos não são apropriações de objetos que adquirem novos simbolismos, mas são confecções de objetos semelhantes aos do cotidiano de muitas pessoas, que, como obras de arte, adquirem novos simbolismos. Marepe chama essas recriações simbólicas de nécessaire, e não ready-mades, como os de Duchamp.

 

No parque, muitas vezes a simplicidade criativa de Marepe é percebida com certo estranhamento. Suas obras propõem o diálogo, o reconhecimento cultural e a reflexão de questões recorrentes na arte contemporânea, com jeitinho brasileiro e nordestino ao mesmo tempo.

 

 

Texto de Beatriz Alvarenga, Daniela Rodrigues, Marília Balzani e Pedro Vinícius, mediadores de Arte e Educação do Inhotim

 

 

Em fevereiro, a visita temática artística propõe uma reflexão sobre a obra de Marepe no Inhotim. Confira a programação aqui.