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O Labirinto de Cristina Iglesias #Ensaio1nfinit0

Cristina Iglesias

O caminho de Belo Horizonte a Inhotim, em Minas Gerais, me afetou de uma maneira especial. Ao cruzar a aldeia até Brumadinho, ao longo dos trilhos de trem das minas, tudo estava coberto de um pó vermelho ferroso que dava a cada imagem a aparência de uma antiga foto em sépia. Notei várias garagens abertas onde se reparavam carros quebrados e me fixei também nas montanhas, com suas entranhas abertas entre a vegetação exuberante e desordenada. Essa visão me afetou no encontro com o Jardim. De repente, como um oásis perfeito depois desses caminhos sinuosos apareceu Inhotim, um laboratório de botânica e arte com uma ânsia educacional e de discussão exemplar.

Minha primeira ideia foi a proposta final. Buscamos um lugar selvagem, mas nas proximidades. Imaginei uma peça no mato, perto do jardim mais puro , mas construindo um novo caminho a uma das ilhas de vegetação que no Inhotim preservam a memória do lugar. Era a possibilidade de jogar com a paisagem, extrair, preservar e replantar como em um desenho infinito, como na ficção interior.

Eu construí uma sala vegetal sem teto, a céu aberto no meio da floresta, com paredes de aço inoxidável que refletem a natureza e, portanto, desaparecem, se camuflam. Há quatro portas, uma para cada lado. Cada porta se abre para um lugar com uma topografia que constrói recantos que convidam a ficar e aberturas para alguns dos outros espaços, sem acesso físico, mas acessíveis pelo olhar. As paredes representam uma ficção vegetal com um padrão que se repete e simultaneamente vai metamorfoseando de um espaço para outro, com detalhes que vão se multiplicando de forma quase imperceptível.

Sem acesso aos diferentes espaços de dentro, é necessário voltar o olhar para o exterior, em direção à vegetação real, e encontrar a próxima porta entre os reflexos do ambiente. Ao entrar em outro espaço, a experiência será semelhante à já vivida. Ouve-se o murmúrio da água. Uma das entradas, a mais escondida por ervas daninhas, conduz ao centro do labirinto, onde, sob o chão de grade metálica, a água flui formando um redemoinho.

Um labirinto é um complexo jogo de infinitos.