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Risco e poesia

Rodrigo Moura

A chegada das pinturas de Luiz Zerbini a Inhotim, coincidindo com a sala de Juan Araujo e com uma mostra em torno do gênero natureza-morta, evidencia o desejo de mostrar e falar de pintura. Desde a inauguração do pavilhão de Adriana Varejão, em 2008, a pintura não ocupava um lugar de tanto destaque em nossas exposições. Com suas composições intrincadas e referências culturais complexas, as obras figurativas de Zerbini poderiam ser consideradas o ponto focal de sua apresentação na Galeria Praça, reinventando a pintura narrativa – penso na linhagem que vai da pintura religiosa renascentista à pintura histórica do século XIX brasileiro.

 

Sua relação com a natureza, entendida como construção do homem, ganha uma relevância especial em Inhotim, onde os limites entre o cultivado e o natural são sempre presentes. Em Mamão Manilha (2012), um mamoeiro resiste num canteiro de obras que inclui uma pintura de Hélio Oiticica. Em Mar do Japão (2010), o contrário: são vestígios humanos que subsistem numa paisagem marinha entrópica. Os quadros geométricos e as colagens-esculturas que completam a sala mostram a inquietude do artista nos últimos dez anos de sua produção. Ao mesmo tempo lenda e exceção entre os pintores brasileiros dos anos 1980, por sua pintura solar, tropical e exuberante, Zerbini acumula 30 anos de arte mostrando que sem risco não há poesia.

 

Obras de Luiz Zerbini na Galeria praça. Foto: Ricardo Mallaco
As obras de Luiz Zerbini podem ser vistas na Galeria Praça. Foto: Ricardo Mallaco

Risk and poetry

Rodrigo Moura

The arrival of Luiz Zerbini’s paintings at Inhotim, which happened at the same time the Juan Araujo room was opened, together with an exhibit on still life, show the desire to show and talk about painting.  Since the Adriana Varejão pavilion was opened back in 2008, painting hasn´t been in the foreground in our exhibits as much as it is now.  With intricate compositions and complex cultural references, Zerbini’s figurative works could be considered the focal point of his presentation at Galeria Praça, a reinvention of narrative painting – I think of the line that goes through Renaissance religious painting to the Brazilian historical painting of the 19th century.

 

The relationship with nature, which is understood as the construction of man, becomes especially relevant at Inhotim, where the boundaries between what is cultivated and what is natural are always present.  In Mamão Manilha (2012), a papaya tree resists at a construction site that includes a painting by Hélio Oiticica.  In Mar do Japão (2010), it is the opposite:  human traces remain in an entropic seascape. The geometric paintings and sculpture-collages that complete the room show the artist’s restlessness during the last ten years of his production.  Due to his solar tropical and exuberant painting, at the same time Zerbini is a legend among Brazilian painters from the 1980s, he gathers 30 years of art showing that there is no poetry without risk.

 

Obras de Luiz Zerbini na Galeria praça. Foto: Ricardo Mallaco
Luiz Zerbini’s works can be seen on the Galeria Praça. Photo: Ricardo Mallaco