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A música de computador de Jaloo

Redação Inhotim

Um dos programas que o cantor paraense Jaloo, 29 anos, mais curtia  quando pequeno era acompanhar a mãe em seu programa preferido: o karaokê. Nesses momentos, gostava de cantar os clássicos bem alto ao lado da família. Mas o passa-tempo oficial dele continuava sendo os videogame. Ao chegar à adolescência, um grande amigo o apresentou a uma mistura de estilos musicais, que incluem música eletrônica, rock, e jazz. A partir dai, o interesse foi crescendo, fazendo com que ele conhecesse infinitas possibilidades, se aprofundasse nas pesquisas e começasse a trabalhar com produção musical, aos 23 anos. O tempo e o destino fizeram dele um dos jovens cantores brasileiros que são referência na ousadia e na originalidade. “Foram acontecimentos não planejados. Quando vi, estava no palco. Fui convidado para fazer um dj set num festival que ia ser em Brasília só de música paraense. Todos esperavam que eu faria somente o dj set, mas eu decidi fazer um show cantado. Deu certo. Foi um teste às cegas que me levou a fazer o que eu faço hoje”, relembra.

Jaloo é um dos destaques do MECAInhotim, que acontece nos dias 5 e 6 de novembro no Instituto. Confira a entrevista do artista para o blog do Inhotim.

Como você define a sua música?
Eu toco computador. E isso é engraçado porque eu encontro músicos e nós temos maneiras de criar que são muito diferentes. Um violão, um teclado, uma guitarra, os timbres, e eu construo meio que desenhando. A criação no Software é meio que um desenho. É outro meio mas que você chega no mesmo resultado. Então é isso: faço música de computador.

Você vem de um lugar onde a música é um componente muito forte da cultura, mas ainda pouco conhecida aqui no sudeste. O que você gostaria de contar ao publico do MECA sobre a música paraense?
Uma coisa que eu acho muito linda é o quanto é verdadeiro o que os paraenses fazem em relação a música. Até o tecno brega é levado com muito humor envolvido, mas um humor que é levado muito a sério por nós. Eu acho isso lindo, porque é natural. Outra coisa que adoro é a independência. Conseguimos viver, tocar, divulgar… não estando tão preocupados com o que está sendo ditado nos eixos do sudeste. Isso é autêntico. Perde muito quem não conhece.

Você acabou se tornando uma referência na quebra desse tabu relacionado ao gênero dos artistas. Para você, qual a importância dessa representatividade? 
Eu não tenho problema em me identificar com meu feminino. Mas eu sou um homem gay. Eu não vou entrar no mérito de que sou uma mulher, porque eu não vivenciei isso de fato. Não posso comparar meu estilo de vida com o de uma transexual, por exemplo. Mas ao mesmo tempo, a gente tem problema aqui nesse lado também. E vamos em frente. Eu sempre fui assim e estou quebrando este tabu desde quando me entendo por gente. Às vezes acontece de certas questões, como essa de gênero, serem pautadas e tomarem um corpo até maior do que a gente como artista. Eu acho importante sim essa visibilidade, mas tem de haver o cuidado para não se enquadrar certos artistas que se comunicam de maneiras diferentes somente pela questão de gênero. Eles cantam, eles fazem bonito. E isso também importa. Se assumir da forma como somos às vezes é difícil e cansativo. Mas o que dá força é ver o público se inspirando no que eu estou fazendo. Quando vejo uma pessoa que mora no interior do interior vindo falar comigo que se sente mais forte quando me vê, eu penso que tudo vale a pena sim.

O que você está preparando para seu público do MECAInhotim?
Eu quero que as pessoas entrem no meu mundo. Eu tenho muito essa coisa do lúdico, da mágica. Eu vou me empenhar bastante pra criar essa fantasia linda.