Dias de aprendizado nos jardins do Inhotim
A chuva se preparando pra cair do céu não foi motivo de desânimo para o grupo de mais de 200 pessoas que esperavam com ansiedade o paisagista Raul Cânovas e o engenheiro agrônomo do Inhotim Juliano Borin para o primeiro Curso de Paisagismo do Instituto, realizado de sexta a domingo no Parque. Gente de diferentes partes do Brasil estavam ali para três dias de prática e reflexão sobre o poder transformador dos jardins. “Não podemos perder a nossa essência. E isso vem, em primeiro lugar, da nossa paisagem. Pensando de uma forma muito simples e simbólica, quando o homem primitivo acorda, a primeira coisa que ele olha é o horizonte, é a paisagem. Devemos valorizar e cuidar disso com carinho”, disse Raul, logo ao iniciar o curso.
Com bom humor, a dupla deu início ao curso falando sobre o que Raul afirmou ser o pilar do paisagismo, por oferecer, flores, frutos e sombra: as árvores. Segundo ele, o Brasil é um lugar privilegiado por proporcionar uma “eterna primavera” devido ao seu clima predominantemente tropical que faz possível espécies florescerem o ano inteiro. Juliano usou sua experiência profissional com agronomia em diferentes lugares do Brasil e do mundo para contar mais sobre cuidados, curiosidades e características de diferentes espécies. As palmeiras também foram tema do debate, assim como os arbustos, as trepadeiras e as herbáceas.
Durante os três dias, os alunos tiveram a chance de passear por entre os caminhos do Parque, observando, junto a Raul e Juliano, as espécies que compõem o Inhotim. O passeio serviu para mostrar como cores, formas e texturas podem inspirar na montagem do jardim de cada um. Raul explicou sobre a importância em atentar para as diferentes sensações que cada planta desperta dentro das pessoas. A flor branca, por exemplo, é uma boa opção para lugares abertos, provocando o sentimento de frescor quando contrasta com o azul do céu, ideal para estar perto de piscinas e áreas de lazer. Já a palmeira, passa a sensação de tranquilidade e flexibilidade “se vem uma tormenta, ela se inclina. Pode até quase cair, mas se reergue. Sem contar o fruto, que é puro potássio. Não é atoa que uma pessoa abraça uma palmeira quando se sente angustiada”, pontuou Raul.
Raul e Juliano também levaram aos alunos debates sobre a organização dos jardins, a importância da presença da curva no paisagismo e os cuidados com a iluminação. Cânovas explicou que evitar um caminho todo reto é importante para incentivar o contato das pessoas com a natureza. “A curva foi uma descoberta para o paisagismo, ela nos remete ao universo, porque te obriga a olhar em volta, a estar consciente do seu próprio caminhar”, disse Raul, sempre de forma poética e serena.
A dupla concluiu o curso no final da tarde deste domingo com a certeza de ter despertado nos alunos um olhar mais carinhoso e cuidadoso sobre as formas de se fazer um jardim. Durante as aulas, o que ficou do discurso de Cânovas foi a convicção de que as plantas não possuem emoção, mas têm sentimentos. Sentem frio, calor, sede, adoecem… São seres que vivem, transmitem energia e não apenas enfeitam, mas também fazem dos lugares um lugar de aconchego e paz.