A Festa da Colheita em Brumadinho
Festa da Colheita é agradecimento pelos primeiros frutos, é celebração das primícias. Fala da prosperidade, do nascimento daquilo que foi semeado. Na longa tradição que acompanha a humanidade desde o domínio da agricultura, e particularmente, na tradição católica, ela ocorre ao final da safra e seu principal sentido é a oferenda. Na comunidade quilombola de Marinhos, em Brumadinho, o evento ocorreu no último domingo, 14/09.
Ao longo da celebração, os agricultores agradeceram pelo milho, abóbora, cana, feijão e até pela lenha produzida na comunidade, cujo grupo de roça – Quem planta e cria tem alegria – é expressão fiel do que se viu ao longo do dia. A comunidade cantou, festejou e comemorou. Tudo deliciosamente acompanhado pelo frango com ora-pro-nóbis. Antes que a produção chegasse às mesas das instituições para as quais foi doada, ela foi saudada pelo canto dos violeiros e pelo jogo de capoeira dos grupos locais. Foi também reverenciada pelas mulheres da comunidade, com sua dança da peneira. Coreografia que faz lembrar que os modos de fazer podem atravessar os séculos e sobreviver em rituais antes praticados em torno das fogueiras, hoje em torno da colheita, mas sempre sustentados pela noção de pertencimento.
Por fim, a produção foi abençoada em missa dedicada ao ofertório. Para além da colheita, os moradores ofereceram a rica e longeva tradição cultural que sobrevive na comunidade, como demonstra o emocionante grupo que, a certa altura, ergue um de seus meninos e canta a importância da solidariedade na vida da comunidade: […] de onde nós vem? Nós é do quilombo, é negro por negro, expressão que dá nome ao grupo. O evento se encerrou com a apresentação das crianças e jovens que participam do projeto de iniciação musical em percussão, desenvolvido pelo Inhotim, tendo à frente o músico Rei Batuque – também um quilombola – em uma demonstração do conhecimento e profundo respeito que o Instituto tem pelas manifestações culturais presentes no território que o abriga.